quarta-feira, 28 de março de 2012

Autismo - 02/04

Autismo

Criança
Autismo é a denominação dada a um conjunto de comportamentos derivados de um desenvolvimento neurológico/metabólico atípico. Há evidências de que esta diferença neurológica esteja presente desde o nascimento (veja Material de Apoio) ou até um período anterior. No entanto, os comportamentos observados – através dos quais a desordem é diagnosticada – tendem a ser apenas detectáveis a partir da idade de cerca de 18 meses.

A desordem atinge indivíduos de ambos os sexos e de todas as etnias, classes sociais e origens geográficas. A incidência é maior entre o sexo masculino (4 vezes mais comum em meninos do que meninas). Pesquisas científicas de estudo da desordem têm sido desenvolvidas em diversos países, mas a comunidade científica ainda não chegou a um consenso em relação às causas do autismo. Há fortes evidências, no entanto, de que exista de uma predisposição genética (Rutter, 2005), e que fatores ambientais sejam o gatilho para o aparecimento dos sintomas. Também tem sido sugerido que o autismo seja causado por um distúrbio da integração sensorial (Smith-Myles & Simpson, 1998), atrasos de maturação dos reflexos primários (Teitelbaum, Benton & Shah, 2004), disfunção do sistema imunológico (Pardo, Vargas & Zimmerman, 2006), ou problemas gastro-intestinais (Gurney, McPheeters & Davis, 2006).

Os recentes números de estatísticas do autismo entre a população dos Estados Unidos e da Europa apontam para a existência de uma epidemia atual do autismo, com os números de estatísticas nacionais nos EUA saltando de 1 em cada 2500 pessoas na década de 1990 para 1 caso de autismo em cada 110 crianças em 2009 (fonte: Centers for Disease Control, EUA). A ASA – Autism Society of America – estima que existam atualmente 1,5 milhões de americanos afetados pelo autismo. O mesmo quadro tem sido observado no Reino Unido, com a incidência subindo de 1:2500 em 1993 para 1:100 em 2009. Estes números tornam a desordem mais comum do que o câncer infantil, o diabetes e a AIDS.


Criança

No Brasil, país com uma população de cerca de 190 milhões de pessoas em 2007, estimava-se que havia cerca de 1 milhão de casos de autismo (fonte: Projeto Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, 2007). O aumento dos casos de autismo no Brasil tem sido relatado por instituições ligadas ao atendimento de famílias de crianças com autismo em todas as regiões brasileiras.

No passado, o autismo foi freqüentemente considerado um distúrbio comportamental, com alguns cientistas tendo até adotado a teoria de que o autismo era causado pelo fenômeno das “mães-geladeiras”. Pesquisas mais modernas têm descartado totalmente esta perspectiva. Na maioria dos últimos sessenta anos (desde que o autismo foi primeiramente descrito por Kanner, em 1943), a desordem foi estudada em termos de comportamentos apresentados ao invés do estudo do subjacente desenvolvimento neurológico. Por conseqüência, os diagnósticos atuais ainda são feitos com base em comportamentos observáveis, o que significa um atraso na elaboração do diagnóstico na maioria dos casos. Recentes pesquisas com o foco na identificação de características neurológicas do autismo têm sido desenvolvidas com o objetivo de auxiliar o processo de diagnóstico, a intervenção precoce e recuperação.

Nos dias de hoje, o Autismo é freqüentemente referido como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), nomenclatura que indica uma ampla variação na sintomatologia. Crianças com os diagnósticos de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Transtorno Global do Desenvolvimento (TID, ou a sigla PDD em inglês), Transtorno Invasivo Não Especificado do Desenvolvimento (sigla PDD-NOS em inglês) ou Síndrome de Asperger tendem a exibir comportamentos similares em um nível moderado.

Criança
Os comportamentos que geralmente levam ao diagnóstico do Autismo ou Transtorno do Espectro do Autismo são comumente classificados em três pilares. Estes descrevem dificuldades nas seguintes áreas:
  1. Interação Social
  2. Comunicação e Linguagem
  3. Comportamentos repetitivos e de auto-estimulação (incluindo-se aqui os interesses restritos e dificuldades na área de imaginação)

O que os comuns critérios de diagnóstico falham em reconhecer são as habilidades e talentos exibidos por pessoas diagnosticadas com autismo. Há diversos relatos científicos e anedotários sobre habilidades incríveis que várias pessoas com autismo possuem. Em uma das extremidades deste espectro encontram-se as pessoas que são referidas como “savants”, as quais apresentam habilidades extraordinárias, geralmente nas áreas de matemática, música ou arte. (Happe, 1999).

Já os milhares de pessoas com autismo que não desenvolvem habilidades de “savants”, também possuem diversas habilidades especiais. Muitas pessoas com autismo apresentam habilidades de percepção viso-espacial altamente desenvolvidas (em Happe, 1999). Nós já trabalhamos com crianças de 5 anos de idade capazes de montar um quebra-cabeça de 500 peças em questão de minutos com o lado da figura virado para baixo. Outras pessoas com autismo são capazes de memorizar uma cena na rua para depois, em casa, desenhar a cena com os mais minuciosos detalhes (ex: Steven Wiltshire).

Um grande número de pessoas com autismo, numa proporção maior do que na população que não apresenta autismo, possui ouvido absoluto – a habilidade de identificar uma nota musical ouvida. Há outros casos de pessoas com autismo que, assim como o personagem do filme “Rainman”, são capazes de fazer cálculos matemáticos extremamente complexos. Nós também trabalhamos com crianças que, aos 4 anos de idade, eram capazes de multiplicar 2 números de 3 dígitos cada em suas “cabeças”. Estas crianças não haviam recebido nenhum treinamento em matemática, mas haviam apresentado esta habilidade em idades precoces. A mãe de um adolescente com quem trabalhamos relatou que seu filho havia começado a aprender matemática sozinho aos dois anos de idade, e que aos cinco já se divertia solucionando problemas de cálculo.

Criança
Inspirados pelo Autismo vê cada criança em sua totalidade ao invés de focar apenas nas dificuldades da criança. Ao valorizar os talentos e motivações da criança você pode ajudá-la a superar suas dificuldades. Isto é amplamente aceito na educação de crianças de desenvolvimento típico. Esta noção tem sido ignorada em abordagens educacionais ao autismo, onde procura-se afastar a criança de seus interesses e habilidades adquiridas por serem consideradas “obsessões”. Estas habilidades têm sido consideradas de alguma forma danosas à criança, chegando-se à adoção de medidas extremas (ainda presentes em algumas terapias) para afastar as crianças de seus interesses, incluindo-se choques elétricos e jatos de água.

A velha perspectiva tem visto o autismo como uma desordem comportamental. Como conseqüência deste pensamento, as abordagens têm focado na mudança do comportamento, tentando eliminar os chamados comportamentos atípicos. A nova linha de pensamento vê o autismo como o desenvolvimento resultante de um sistema neurobiológico programado para operar de forma diferente. A conseqüência desta nova forma de pensar o autismo é a terapia que busca oferecer um ambiente físico e social que leve em conta esta diferença biológica e que promova o aprendizado e o bem-estar de cada criança.

Profissionais de abordagens relacionais como a do Programa Son-Rise têm visto durante as últimas três décadas que a aceitação e apreciação das atividades e interesses da criança auxilia na construção de uma ponte que pode levar à interação social com uma criança com autismo. Através da interação social, muitas outras habilidades podem ser aprendidas pela criança. Atuais estudos científicos demonstram o valor desta abordagem (veja Material de Apoio, ex: Dawson & Galpert, 1990; Kim & Mahoney, 2004; Mahoney & Perales, 2005 e Trivette, 2003).

Semana Santa - 05 e 06/04/12


Crucificação de Jesus Cristo
A Semana Santa é a ocasião em que é celebrada a paixão de Cristo, sua morte e ressurreição.
Jesus Cristo não aceitava o tipo de vida que seu povo levava, o governo cobrando altos impostos, riquezas extremas para uns e miséria para outros.
Ao chegar a Jerusalém, foi aclamado pela população como sendo o Messias, o Rei, mas os romanos não acreditavam que ele era filho de Deus, duvidavam dos seus sábios ensinamentos, de sua missão para salvar a humanidade, então passaram a persegui-lo.
Jesus tinha conhecimento de tudo que iria passar, da peregrinação que o levaria à morte. Convidou, então, doze homens a quem chamou de discípulos, para levar seus ensinamentos às pessoas.
Porém, Judas Escariotes, um desses apóstolos, também duvidou que Ele era um enviado de Deus, entregando-lhe para os romanos, que o capturaram.
Em seguida, fizeram Jesus passar pela via sacra, amarrado à sua cruz, carregando-a por um longo trecho, sendo torturado, levando chibatadas dos soldados, sendo caçoado covardemente até sofrer a crucificação e a morte.
Em 325 d.C, o Concílio de Niceia, presidido pelo Imperador Constantino e organizado pelo Papa Silvestre I, fabricou e consolidou a doutrina da Igreja Católica, como a escolha dos livros sagrados e as datas religiosas. Ficou decidido também que a Semana Santa seria comemorada por uma semana (do domingo de ramos ao domingo de Páscoa). Há relatos de festas em homenagem aos últimos dias de Cristo, pouco tempo depois de sua morte. Porém comemoravam dois dias apenas (sábado de aleluia e domingo da ressurreição). Nesse Concílio também foi adotado o Catolicismo como religião oficial do Império Romano.

Cada dia da comemoração faz referência a um acontecimento: o domingo de ramos refere-se à entrada do Rei, o Messias, na cidade de Jerusalém, para comemorar a páscoa judaica. Na segunda-feira seguinte foi o dia em que Maria ungiu Cristo; na terça-feira foi o dia em que a figueira foi amaldiçoada; a quarta-feira é conhecida como o dia das trevas; a quinta-feira foi a última ceia com seus apóstolos, mais conhecida como Sêder de Pessach. A sexta-feira foi o dia do seu sofrimento, sua crucificação. Sábado é conhecido como o dia da oração e do jejum, onde os cristãos choram pela morte de Jesus. E, finalmente, o domingo de páscoa, o dia em que ressuscitou e encheu a humanidade de esperança de vida eterna.
Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola

sexta-feira, 23 de março de 2012

Morre aos 80 anos o mestre do humor brasileiro

Morreu às 14h52 desta sexta-feira (23), aos 80 anos, o humorista Chico Anysio. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, havia três meses. Ao longo de seus 65 anos de carreira, Chico Anysio criou mais de 200 personagens e foi um dos maiores humoristas do Brasil com destaque no rádio, na TV, no cinema e no teatro. Ele deixa oito filhos.

Anysio apresentou uma piora nas funções respiratórias e renal na quarta-feira (21) e voltou a respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia. Ele estava no CTI do hospital carioca desde 22 de dezembro do ano passado por conta de um sangramento. O comediante chegou a ter o problema controlado, mas apresentou uma infecção pulmonar e retornou à internação. Ele seguia em sessões de fisioterapia respiratória e motora diariamente, somadas a antibióticos.


'Chico Anysio posa em sua residência, em São Paulo, em junho de 2009 (Foto: Leonardo Wen/Folhapress )'

O ator também foi submetido a uma laparotomia exploradora, procedimento cirúrgico que serve para revelar um diagnóstico. Essa cirurgia fez com que Chico Anysio tivesse um segmento de seu intestino delgado retirado.

No final de 2010, ele foi levado ao mesmo hospital com falta de ar. Após uma obstrução da artéria coronariana ser encontrada, passou por uma angioplastia, procedimento para desobstrução de artérias. Após 110 dias, teve alta em março do ano passado.

Com fortes dores nas costas, o humorista foi novamente internado em novembro. Ficou no hospital durante cinco dias, para receber medicação intravenosa devido a problema antigo nas vértebras que provocava dor. No fim de novembro, teve febre e os médicos descobriram uma contaminação por fungos, tratada com antibióticos. No começo de dezembro, retornou ao hospital com infecção urinária e ficou internado por 22 dias. Um dia depois, voltou ao Hospital Samaritano.

Nos momentos mais críticos, quando esteve no hospital entre dezembro de 2010 e março de 2011, Chico necessitou da ajuda de aparelhos para respirar e se comunicava com médicos e familiares por meio de mímica. Durante o período pós-operatório, houve o diagnóstico de um tamponamento cardíaco, que acontece quando o sangue se acumula entre as membranas que envolvem o coração (pericárdio).

Durante o período de internação, que alternou momentos no CTI e em unidades intermediárias, Chico Anysio apresentou quadros de pneumonia e passou por sucessivas broncoscopias. As infecções foram tratadas com uso de antibióticos.
Antes, em agosto de 2010, o humorista precisou ser internado para a retirada de parte do intestino grosso após ser constatado um quadro de hemorragia no aparelho digestivo. Em maio de 2009, outra pneumonia o levou ao hospital.


O personagem mais famoso de Anysio foi o Professor Raimundo (Foto: CGCom/TV Globo)
Rádio e TV
Foi no Rádio Guanabara, ainda nos anos 50, que os seus tipos cômicos começaram a surgir. Até o “talento para imitar vozes”, como o proprio Chico descreveria em seu site, evoluir para a televisão. A estreia aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”. Foi lá que o Professor Raimundo teve sua primeira aparição no vídeo, como o tio da protagonista que vinha do Nordeste — até então o programa só havia sido veiculado pelo rádio.
“Até tinha uma coisa de sentar para criar, mas uns nasceram pela voz, outros pelo tipo, pela personalidade, pela caracterização. Sempre fiz questão de que eles fossem encontrados sem que eu estivesse presente. Que alguém dissesse: "'Na minha terra, tem um Pantaleão. No Rio tem muito Azambuja’”, explicou o humorista ao “Estado de S. Paulo”, em 2009.

Num tempo em que ainda não existiam contratos de exclusividade, Chico pôde fazer participações especiais em programas de outras emissoras e em chanchadas da Atlântida.
O “Chico Anysio Show”, seu primeiro programa de humor, foi lançado no início da década de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e em 1982 voltou a ser exibido pela Rede Globo — onde o humorista já trabalhava desde 1969.




Mas foi na Globo que teve seus programas humorísticos de maior sucesso e onde desenvolveu a maioria de seus personagens. Entre as atrações, destaque para “Chico city” (1973-1980), “Chico total” (1981 e 1996) e “Chico Anysio show” (1982-1990).

Alguns desses personagens quase que se misturam à história da televisão brasileira, como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem.

Com o passar dos anos, novos tipos eram criados e incorporados ao programa: o funcionário da TV Globo Bozó, que tentava impressionar as mulheres por conta de sua condição; o mulherengo e bonachão Nazareno, sempre de olho nas serviçais; o político corrupto Justo Veríssimo; e o pai de santo baiano e preguiçoso Painho são alguns dos mais populares.

Apresentada como quadro em outros programas desde a década de 1980, a “Escolinha do Professor Raimundo” tornou-se uma atração independente em 1990. No ar até 2002, o humorístico lançou toda uma geração de comediantes. Entre os “alunos” revelados pelo “professor Chico” estão Claudia Rodrigues, Tom Cavalcante e Claudia Gimenez.

Chico também atuou em novelas e especiais da Globo, como “Pé na jaca” (2007), “Sinhá Moça” (2006), “Guerra e paz” (2008) e “A diarista” (2004). Chico Anysio também teve um quadro fixo no Fantástico por 17 anos (de 1974 a 1991), e supervisionou a criação no programa “Os Trapalhões” no início dos anos 90.




Cinema
A incursão mais recente de Chico Anysio no cinema foi como dublador. É dele a voz do protagonista da animação “Up - Altas aventuras", animação do estúdio Pixar. Antes disso, o humorista fez uma participação especial no recordista de bilheteria “Se eu fosse você 2” (2008), de Daniel Filho. “Nos créditos finais fiz questão de colocar ‘senhor Francisco Anysio’. Ele é um astro, merece ser tratado com toda reverência”, explicou o diretor em entrevista ao G1 durante o lançamento do longa.

Em 1996, o humorista interpretou o personagem Zé Esteves, pai da personagem-título, em “Tieta”, de Cacá Diegues. O trabalho coincidiu com o aniversário de 25 anos da estréia de Chicono cinema, na pornochanchada "O doce esporte do sexo". Antes havia participado de comédias como "Mulheres à vista" e "Cacareco vem aí".

Em 2011, em sua última aparição pública, recebeu o prêmio especial do Júri do Festival do Rio pelo seu desempenho no longa “A hora e a vez de Augusto Matraga”, do diretor Vinícius Coimbra.
"O filme é importantíssimo, a obra é linda. Vinícius realizou algo quase inacreditável. É um filme que, tenho certeza, Sergio Leone assinaria com alegria", destacou o bem humorado Chico, que fez questão de receber o Troféu Redentor pessoalmente, mesmo de cadeira de rodas.
Literatura e artes plásticas
Além de se dedicar ao humor, Chico também foi artista plástico. Apaixonado pela pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que tirava dos países que visitava. Realizou exposições de seus quadros em diversas galerias do Brasil e chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo à atividade.
“Porque teria tido mais tempo para aprender, para melhorar. Teria mais tempo para me tornar conhecido e aceito, para vender meus quadros por um preço melhor. Cheguei a admitir que a pintura seria meu emprego da velhice, mas não vai ser, porque ninguém está comprando nada de obra de arte, e pintar para guardar é terrível”, disse em entrevista à “Folha de S. Paulo”, em 2007. Foi autor de 21 livros, tendo publicado vários best-sellers na década de 70, como "O Batizado da vaca", "O telefone amarelo" e "O enterro do anão". Sua última publicação foi “O canalha”, lançada em 2000.
“É a história do cara que participou de todos os governos, desde Eurico Gaspar Dutra até o primeiro mandato de Fernando Henrique. Foi ele o responsável por todas as canalhices que ocorreram de lá para cá, como dar um revólver de presente a Getúlio Vargas”, explicaria o escritor Chico Anysio em entrevista à revista “Época”, no mesmo ano.
Outra de suas obras de destaque na literatura é o bem humorado manual “Como segurar seu casamento”, também de 2000. Na época, advertiu os leitores: “Não dou conselhos, transmito os erros que cometi e foram cometidos em cinco casamentos. Conviver é a arte de conceder. Essa troca de concessões gera a convivência harmônica”, comentou.




Carreira esportiva
Caçula de oito irmãos, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu no dia 12 de abril de 1931, no município de Maranguape, no Ceará. A cidade constantemente era citada de forma saudosa pelo humorista – seu personagem mais popular, o Professor Raymundo, era de lá.
“Maranguape, cidade de que tanto falo, representa uma grande saudade. Foi um pequeno paraíso, o Éden da minha infância durante gloriosos anos. Foi lá que aprendi a ler sozinho”, escreveu o humorista em seu site oficial.

Aos 7 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, após a falência da empresa de ônibus da família. Morador do Catete, contrariou a vontade do pai e do irmão mais velho — botafoguenses convictos — e se tornou vascaíno. Sonhava em ser jogador de futebol.

Mas a carreira esportiva logo foi esquecida, quando Chico passou em testes para ser locutor e ator da Rádio Guanabara. Ele ficou em segundo lugar, perdendo apenas para Silvio Santos.
Nos anos 50, também trabalhou nas rádios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e Clube do Brasil. Foi na primeira que criou o programa que se tornaria um de seus maiores sucessos, "Escolinha do Professor Raymundo", inicialmente composta por três alunos: Afrânio Rodrigues (o que sabia tudo), João Fernandes (o que não sabia nada) e Zé Trindade (o que embromava o professor).

Apesar da tentativa de se tornar um galã de radionovelas, sua veia humorística se destacava desde o início. “A rádio Guanabara descobriu meu jeito para imitar vozes. Neste dia perdi minha chance de ser um Tarcísio Meira”, contou o comediante em seu site. Foi assim que começou a compor os mais de 70 tipos cômicos que marcariam sua carreira.




Casamentos e filhos
O primeiro de seus casamentos foi aos 22 anos, com a atriz Nancy Wanderley. Depois foi a vez de Rose Rondelli. Sobre a união com a cantora e ex-frenética Regina Chaves, dizia mal se lembrar. Já com Alcione Mazzeo, rompeu a relação por conta de um ensaio nu. Mas foi seu matrimônio com a ex-ministra da Economia do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello — com quem teve dois filhos — que provocou mais polêmica. "Passou a ser uma pessoa de meu desagrado total. Fui um biombo para ela”, disse Chico à revista “Isto É”, em outubro de 2000.

Antes, porém, teve seis filhos, entre eles os atores Lug de Paula (famoso por interpretar o Seu Boneco, da “Escolinha do Professor Raimundo”), Nizo Neto (o Seu Ptolomeu, do mesmo programa, também dublador) Bruno Mazzeo (ator e roteirista). Chico também era tio do ator Marcos Palmeira, filho do cineasta Zelito Vianna, irmão do humorista; e da atriz Maria Maya, filha de Cininha de Paula, sobrinha do humorista.

Em novembro de 2009 foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta comenda do governo brasileiro na área. Da vida, dizia levar apenas um arrependimento: “Me arrependo enormemente de ter fumado durante 40 anos.”

Materia tirada do site G1 (http://g1.globo.com/)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial: mensagem do...

Propaganda - Síndrome de Down - Carlinhos - Radiohead

Propaganda - Síndrome de Down - Carlinhos - Radiohead

Entrevista Jô - A primeira repórter com Síndrome de Down do mundo!

Nunca Substime um Sindrome de Down

21 de Março: Dia Internacional Da Síndrome De Down


terça-feira, 20 de março de 2012

Redes sociais e trabalho em grupo na Internet (série Bits e Bytes, prog. 7)

Internet e pesquisa (série Bits e Bytes, prog. 6)

Redes e Internet (série Bits e Bytes, prog. 5)

Os arquivos de computador (série Bits e Bytes, prog. 4)

O Mundo Digital (série Bits e Bytes, prog. 3)

Hardware e Software (série Bits e Bytes, prog. 2)

Os Números e a Invenção do Computador (série Bits e Bytes, prog. 1)

VOZES DA GUERRA - GUERRA DE CANUDOS - DOCUMENTÁRIO - SESC

quinta-feira, 15 de março de 2012

Escolha Viver Sem Drogas

terça-feira, 13 de março de 2012

Tv MEOM - Turma da Mônica contra as drogas

Turma da Mônica - Um Plano Para Salvar o Planeta - BR (1/3)

Crack - Os efeitos da droga no organismo

Consequências para a saúde

Jornal de Santa Catarina e A Notícia
Intoxicação pelo metal
O usuário aquece a lata de refrigerante para inalar o crack. Além do vapor da droga, ele aspira o alumínio, que se desprende com facilidade da lata aquecida. O metal se espalha pela corrente sanguínea e provoca danos ao cérebro, aos pulmões, rins e ossos.
Fome e sono
O organismo passa a funcionar em função da droga. O dependente quase não come ou dorme. Ocorre um processo rápido de emagrecimento. Os casos de desnutrição são comuns. A dependência também se reflete em ausência de hábitos básicos de higiene e cuidados com a aparência.
Pulmões
A fumaça do crack gera lesão nos pulmões, levando a disfunções. Como já há um processo de emagrecimento, os dependentes ficam vulneráveis a doenças como pneumonia e tuberculose. Também há evidências de que o crack causa problemas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar e dores fortes no peito
Coração
A liberação de dopamina faz o usuário de crack ficar mais agitado, o que leva a aumento da presença de adrenalina no organismo. A consequência é o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Problemas cardiovasculares, como infarto, podem ocorrer
Ossos e músculos
O uso crônico da droga pode levar à degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
Sistema neurológico
Oscilações de humor: o crack provoca lesões no cérebro, causando perda de função de neurônios. Isso resulta em deficiências de memória e de concentração, oscilações de humor, baixo limite para frustração e dificuldade de ter relacionamentos afetivos. O tratamento permite reverter parte dos danos, mas às vezes o quadro é irreversível
Prejuízo cognitivo: pode ser grave e rápido. Há casos de pacientes com seis meses de dependência que apresentavam QI equivalente a 100, dentro da média. Num teste refeito um ano depois, o QI havia baixado para 80
Doenças psiquiátricas: em razão da ação no cérebro, quadros psiquiátricos mais graves também podem ocorrer, com psicoses, paranoia, alucinações e delírios
Sexo
O desejo sexual diminui. Os homens têm dificuldade para conseguir ereção.
Há pesquisas que associam o uso do crack à maior suscetibilidade a doenças sexualmente transmissíveis, em razão do comportamento promíscuo que os usuários adotam
Morte
Pacientes podem morrer de doenças cardiovasculares (derrame e infarto) e relacionadas ao enfraquecimento do organismo (tuberculose).
A causa mais comum de óbito é a exposição à violência e a situações de perigo, por causa do envolvimento com traficantes, por exemplo.

Escolha Viver Sem Drogas

segunda-feira, 12 de março de 2012

Uru-Eu-Wau-Wau


Kanindé Associação de Defesa Etnoambiental
verbete produzido em parceria com Jupaú - Associação do Povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau  
kaninde@kaninde.org.br
julho, 2003
  • Outros nomes: Bocas-negras, Bocas-pretas, Cautários, Sotérios, Cabeça-vermelha, Urupain
  • Onde estão: Bolivia
    AC
    Peru
  • População:
  • Família linguística: Tupi-Guarani

Introdução

...era uma índia que virou a lua. Aí ela foi, subiu no pau...ela queria ficar no céu... A mulher ficou com raiva por que o namorado dela arrumou outra namorada. Ela ficou brava e disse: - Ah eu não fico aqui mais não; eu vou morar no céu. Primeiro não tinha nada escuro. Aí bicho bravo andava muito aqui. Aí tupangá. Mudou: bicho bravo tem que dormir vai entrar no buraco escondido de manhã cedo. Índio vai caçar no mato de manhã cedo. Quando ficar escuro, aí dá pra dormir. Antigamente não tinha escuro...
Este trecho do mito sobre a criação do dia e da noite é compartilhado pelos Jupaú (mais conhecidos pelos brancos como Uru-eu-wau-wau) e pelos Amondawa, grupos que se reconhecem como distintos mas que são ambos Kawahib, falantes de uma mesma língua e com visão de mundo e modo de vida semelhantes.

Identificação e demografia

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A população da Terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau é composta por vários subgrupos, como: Jupaú, Amondawa e Uru Pa In. Encontram-se distribuídos em 6 aldeias, nos limites da Terra Indígena, por questões de proteção e vigilância. Além das etnias acima identificadas, há presença de índios isolados como os Parakuara e os Jurureís, assim como dois grupos cujos nomes são desconhecidos, um deles no Sudoeste (no médio do rio Cautário) e outro no centro da TI (no Igarapé Água Branca).
Os Jupaú traduzem sua autodenominação como "os que usam jenipapo". A denominação "Uru-eu-wau-wau" foi dada aos Jupaú pelos índios Oro-Uari. Muitos foram os nomes atribuídos aos Uru-Eu-Wau-Wau. As denominações Bocas-Negras, Bocas-Pretas, Cautários, Sotérios, Cabeça-Vermelha, são encontradas na historiografia e estão relacionadas ao espaço geográfico ou a semelhanças culturais e lingüísticas dos Jupaú e Amondawa, ou a grupos Kawahib em geral.
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Após o contato, no início dos anos 80, ocorreu um decréscimo populacional significativo nesses grupos. A população passou de 250, em 1981, para 89 em 1993, particularmente entre o povo Jupaú. Cerca de 2/3 foram eliminados em razão de conflitos e das sucessivas doenças que assolavam as aldeias, principalmente as infecto-respiratórias. Nos anos seguintes a 1993 houve uma pequena retomada no crescimento populacional, em parte pela demarcação, fiscalização e vigilância da TI. O incremento mais significativo foi da população Amondawa. No ano de 1995 a população da TI passou a ser de 114 pessoas; em 2000 era de 160 pessoas; e em 2002 era de 168 pessoas.
Individualmente, o povo Amondawa destaca-se entre as etnias inseridas na TI com o maior crescimento populacional, somando 83 pessoas. Isto pode ser explicado pela melhoria das condições socioeconômicas, já que possui uma considerável produção agrícola, com assistência técnica na aldeia Trincheira (onde habita), permitindo reforçar a segurança alimentar. As quatro aldeias Jupaú (Alto Jamari, Jamari, Linha 623 e Alto Jaru) tinham, em 2003, um contingente populacional de 85 pessoas, entre as quais há uma não-índia casada com um Jupaú, uma Arara casada com Amondawa, três Juma casadas com Jupaú e um índio Juma (estando os Juma na aldeia Alto Jaru).

Localização

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Tendo sido declarada de posse permanente dos índios em 1985 e revogada em 1990 pelo presidente José Sarney, a terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi novamente homologada por decreto do então presidente Collor em 1991. A área tem a extensão de 1.867.117, 80 ha e perímetro de 8.656.153,01 metros. Encontra-se sobreposta ao Parque Nacional de Pacaás Novos, criado em 1979.
A TI Uru-Eu-Wau-Wau é administrada pela Fundação Nacional do Índio através da Administração Regional de Porto Velho. Possui três Postos Indígenas (PIN), com chefe de postos contratados: PIN Comandante Ari, PIN Trincheira e PIN Jamari, e sem portaria os Postos Indígenas de Vigilância (PIV) do Alto Jaru (aldeia do Arimã), Linha 623 (aldeia do Paiajub), PIV Bananeira e o PIN Oro-win. Há ainda um Posto Indígena não oficial chamado São Luiz, onde mora a comunidade Oro-win, localizada na margem do rio de mesmo nome e assistida pela Administração Regional de Guajará Mirim. Esta, que no entanto, não tem portaria administrativa de chefia de Posto Indígena ou para auxiliar de enfermagem, ficando os índios prejudicados no atendimento"
A terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau abrange parte da Serra dos Pacaás Novos e da Serra dos Uopianes. A primeira se distingue por conter o ponto mais elevado de Rondônia, o Pico do Tracoá, com 1.230 m de altitude; a segunda possui altitudes não superiores a 600m. As paisagens são diversificadas e o relevo ora se apresenta em forma de colinas com ou sem mata, ora sob forma de chapadas tabulares e relevos residuais (inselbergs), muitas destas contendo cavernas.
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A área detém uma rica diversidade biológica e espaços intocados. Também é o berço das águas de pelo menos 12 sub-bacias hidrográficas de Rondônia. No topo das serras, é comum a formação de campos e cerrados e outras formações endêmicas, enquanto que no rebordo encontramos a floresta tropical aberta e fechada sobre solos de maior profundidade. Os Rios são chamados na língua Kawahib de paraná; os Igarapés são chamados de côo-via; os lagos de ipapê-bua. A mata ciliar é chamada de paraná-capura

Histórico do contato

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Pelos indícios antropológicos descritos por Curt Nimuendajú, o Estado de Rondônia possuiu um número razoável de “silvícolas” de diversas etnias que lá habitavam. Além dos povos tradicionais, a ocupação em Rondônia pelos não índios sempre foi motivada por interesses econômicos. O primeiro fluxo se deu no século XVII em busca de mão-de-obra indígena escrava. O segundo, no século XVIII, foi motivado pela busca de ouro. No final do século XVIII começa o ciclo da borracha, que teve uma queda na década de 1910-1920. Após a II Guerra Mundial houve uma revalorização da borracha juntamente com a exploração mineral, cassiterita e ouro na Amazônia, trazendo um novo fluxo migratório que ocupou a região, acarretando conflitos com dezenas de povos indígenas. Milhares de indígenas morreram em combates e/ou epidemias e tiveram suas terras invadidas.

A partir da década de 40 começaram os primeiros projetos de colonização governamentais. No início dos anos 60 inicia-se a abertura da estrada, BR 364, que "rasga" o estado de sudeste a noroeste, executada pelo Polonoroeste (Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil) e financiada pelo Banco Mundial. Seguindo o eixo da estrada, nos primeiros anos da década de 70 grandes projetos de colonização do governo trazem milhares de agricultores do sul e sudeste do Brasil, deslocando para lá o impasse político da reforma agrária.
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No caso particular dos Uru-Eu-Wau-Wau, embora se tenham relatos desde 1909 sobre a ocupação indígena na região, inclusive registro de conflitos e localização de aldeias, os registros oficiais são realizados somente a partir de 1976, quando foram localizadas três malocas entre cabeceiras do Rio Branco do Cautário e Sotério, próximo a serra dos Pacaás Novos, e uma próxima ao Igarapé Souza Coutinho, na cachoeira do Mutum.
A área de ocupação Uru-Eu-Wau-Wau ia dos vales dos rios Madeira (ao norte), Machado (a leste), Guaporé (ao sul) e avançava até o Mamoré (a oeste), conforme os registros históricos disponíveis e os relatos orais dos índios. Desde pelo menos o início do século XX, os Uru-Eu-Wau-Wau lutaram contra as frentes expansionistas que foram invadindo a região.
Muito antes do contato oficial desses grupos, a primeira proposta concreta de delimitação da reserva indígena deu-se em 1946, quando se informou ao governo do Território de Rondônia sobre a ocupação indígena de toda a bacia do rio Jamari e bacia do rio Floresta até a serra dos Pacaás Novos. De acordo com o documento da época, o despacho foi favorável em 26 de novembro de 1946. “Em 1946, após o massacre provocado pelo senhor Manoel Lucindo às aldeias dos Oro-Towati e os diversos contra-ataques por parte dos índios, o SPI [Serviço de Proteção aos Índios] decidiu interditar a área abarcada pelo Seringal São Luiz e através do ofício 30/64, 32/64, 33/64, o ato foi comunicado ao senhor Manoel Lucindo, ao Governo do território de Rondônia e ao Banco de Crédito do Amazonas”.
Seguem várias interdições na área, até que, em 24 de Março de 1984, pela portaria 176/E, o presidente da Funai institui um grupo de trabalho para o estudo de identificação e definição da área indígena do Uru-Eu-Wau-Wau e Urupa-In. Em 9 de julho de 1985, foi declarada de posse permanente dos índios, através do decreto de 91.416. Em 1990, o presidente Sarney revogou a terra, mas, em 29 de Outubro de 1991, o presidente Fernando Collor homologou a demarcação administrativa da área indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
Os Uru-Eu-Wau-Wau foram contatados pela Funai a partir de 10/03/1981, em Alta Lídia, hoje Comandante Ary. Na ocasião foram contatadas 250 pessoas. Em 1984 a Funai localizou três aldeias; mas em 1986 já eram um total de oito. Naquela época o posto Comandante Ary já havia sido visitado por mais de 150 indígenas, tendo a Funai um cálculo de que os Uru-Eu-Wau-Wau fossem aproximadamente 500 indivíduos.
Os Jupaú informam que existem outros três grupos ainda hoje não contatados, que vivem na região do rio Muqui, Cautário e S. João do Branco. Consta no relato da época a existência de várias aldeias ainda sem contato, onde se calculavam aproximadamente de 1000 a 1200 índios isolados na Terra Indígena. As pesquisas mostram que o grupo identificado como sendo Mamõa trabalhava gratuitamente para os seringueiros; os Amondawa estavam cercados por invasores e solicitavam a intervenção da Funai, que desconhecia onde ficavam suas aldeias; uma jupaú identificado como Kanindé comentava que  sua mãe e irmã tinham sido raptadas pelo seringalista Alfredo. Seus descendentes contam ainda hoje que sua mãe morrera e a irmã continuou no poder do invasor, e que a mesma gostaria de voltar a morar na aldeia, mesmo não tendo sido criada com os Jupaú.
O chefe de ajudância de Guajará Mirim, da Funai, conclui em relatório datado de 03.05.1988 que não se deveria criar a reserva indígena no local de ocupação dos índios, pois isto prejudicaria os seringalistas e seringueiros. Nessa época, e o Incra já estava criando o Projeto Fundiário Costa Marques, com uma clara posição a favor dos não índios. Porém o relatório alerta para a necessidade da Funai enviar um sertanista à área para fazer o contato antes que os seringalistas o fizessem.

Em 1980 foram localizados 11 tapiris e roças no rio Jamari e próximas aos campos do Comandante Ary (Alta Lídia). Também foram encontrados acampamentos à margem esquerda do Urupá, próximo à BR 429, e em 1984 uma aldeia no Urupá e outra em São Miguel; além de acampamentos na serra do Tracoá, divisor Jamari/Candeias, no Ricardo Franco, Muqui, Igarapé Pombal, Jarú, Cautário, São Miguel, Ouro Preto, Água Branca e na Serra dos Pareci/Pacaás Novos (três aldeamentos com várias malocas no interior do Parque Pacaás Novos, com distância de 7 km entre si).

Invasões

Na história da Terra Indígena, ocorreram sucessivas invasões, tanto por parte de madeireiros e seringalistas, quanto por camponeses em busca de terras. As invasões se intensificaram a partir dos anos 80 e persistem até hoje. A baixa fiscalização dos órgãos públicos responsáveis e o isolamento da área contribuíram muito para que o quadro se agravasse. Denúncias são freqüentes, a despeito do governo de Rondônia ter firmado um acordo de fiscalização das invasões na TI. Um exemplo recente é o ocorrido em abril de 2003 com a invasão de 5.000 não indígenas que se auto intitulavam como a “Liga dos Camponeses Pobres”. Sua retirada se deu semanas depois e envolveu uma operação conjunta de diversos órgãos públicos — Polícia Federal, Funai, Ibama, Incra, Batalhão de Polícia Florestal e Secretaria de Segurança Pública do Estado de Rondônia — e a ONG Kanindé.
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Na segunda metade da década de 80, após a pavimentação da BR-364 ocorre a intensificação do comércio de madeira com o sul do país. A exploração seletiva de madeiras nobres no Estado de Rondônia tornou o estoque dessas espécies reduzido nas propriedades particulares, ficando disponível apenas a longas distâncias das indústrias beneficiadoras. Com isso, o furto de madeiras nas Terras Indígenas, principalmente as madeiras nobres (mogno e cerejeira), também se intensificou. Várias cidades com dezenas de serrarias estão instaladas na periferia das TIs. Avalia-se que 90% do mogno e 80% da cerejeira que chegam nas indústrias madeireiras de Rondônia são provenientes de Terras Indígenas ou de Unidades de Conservação.
Somando-se a pressão do comércio da madeira, cresce a população do entorno das Unidades de Conservação. Como estratégia eleitoral, foram criados muitos municípios no Estado, parte destes sem infra-estrutura e com pequena população, sem capacidade de arrecadação para sobrevivência. Em 1991 o Estado de Rondônia possuía apenas 40 municípios, hoje tem 52. Vários municípios criados incidem mais de 50% de sua área territorial dentro de Terras Indígenas. Diante desta realidade, a tendência é haver cada vez mais pressão antrópica nas Terras Indígenas.
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Os Amondawa e Jupaú são historicamente hostis às frentes econômicas colonizadoras desde o inicio do século XX, vivendo em conflito com os seringalistas e garimpeiros. Nas duas últimas décadas a luta é contra as invasões dos pecuaristas, agricultores, garimpeiros e contra as ações das madeireiras que já furtaram, em uma década mais de 500.000 metros cúbicos, principalmente de madeira nobre.

Nestes últimos dez anos foram realizados na terra indígena e no parque nacional um grande número de fiscalizações. As ações que tiveram sucesso levaram a abertura de dezenas de inquéritos policiais, com a apreensão de quase uma centena de veículos, entre caminhões e tratores. As maiorias destes veículos foram devolvidos aos infratores, de acordo com a legislação de deixar o próprio réu como fiel depositário, enquanto tramita o processo na Justiça. Mas muitas vezes os índios se revoltaram com a decisão dos juízes e queimaram os veículos para que não fossem devolvidos. Muitos destes infratores retornaram e continuam furtando madeira.

A área Litigiosa do Burareiro

Na história mais recente dos Jupaú, o Rio Floresta foi palco de um grande conflito entre indígenas e não indígenas. Mesmo após a Funai ter notificado o Incra de que a região estava interditada para os índios, este expediu 122 títulos definitivos a agricultores no interior da área indígena Uru-Eu-Wau-Wau, gerando um problema não resolvido até os dias de hoje, com perdas para os indígenas, pois a área vem sofrendo esbulho.

No final da década de 70, o Departamento Geográfico do Exército Brasileiro foi contratado pela Funai, para realizar a demarcação da terra indígena, devido à complexidade dos conflitos na região e o tamanho da terra a ser demarcada. O Exército sub-contratou uma empresa para realizar os trabalhos finais de demarcação física. Passados vários meses desde a demarcação, a Funai não conferiu os limites. Quando os sertanistas tentaram encontrar os marcos e picadas demarcatórias não conseguiram. As aberturas da picada demarcatória não foram devidamente feitas e as poucas placas colocadas foram arrancadas pelos invasores.

Em 08.11.80, o Incra concedeu 113 títulos indevidamente na parte sul do Projeto Burareiro, localizado dentro da TI. O MIRAD-INCRA em 1985 reconhece que a maioria das pessoas que receberam títulos não moravam nos lotes, que a ocupação era precária devido à falta de estradas de acesso e que os desmatamentos na região haviam apenas começado (Altamir Wolmann,  MIRAD/INCRA, 04.06.85). Nesse ano, são finalmente definidos os limites por decreto presidencial e era esperado que o INCRA reassentasse os titulados em outra região, respeitando a terra indígena. Mas isso não ocorreu.

No Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (PLANAFLORO) e em sucessivas Ajudas Memoriais de missões do BIRD em Rondônia, foi constatada a problemática do Burareiro, mas ao final da execução deste plano não foi dada ênfase para resolver a situação. A questão foi considerada como um problema jurídico a ser resolvido somente pela Funai. Esta, tardiamente, em 1994 entrou com uma Ação Jurídica contra o Incra para anulação dos títulos na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau. O parecer da Justiça em 1996 foi desfavorável aos índios, pois interpretou que a ação movida pela Funai não deveria ser contra o Incra, mas sim contra cada um dos 122 proprietários de Títulos Definitivos. Como a maioria destes títulos já foram vendidos a terceiros, isto acarretaria um grande número de ações judiciais a serem movidas contra os detentores dos títulos, o que é inviável a curto ou médio prazo.

Em 27/04/95, em reunião interinstitucional do Governo do Estado, fez-se uma proposta para que a área remanescente (área de 39.000 ha proposta para ser diminuída) da Terra Indígena Karipuna assentasse, além dos 184 invasores locais, os invasores do Burareiro e os 40 da Terra Indígena Mequéns. A Funai cumpriu o proposto, mas o Incra e Estado não retiraram os intrusos das terras indígenas. Conseqüentemente, permaneceram as invasões e novas ocorreram na área excluída dos Karipuna.

A decisão judicial, em 1996, relativa ao Burareiro, está sendo usada de forma distorcida por empresários e políticos de má fé, dos municípios de Ariquemes e Monte Negro, para incentivo de invasão. A Funai, Polícia Federal e Ministério Público, com apoio da associação indígena Jupaú e a associação Kanindé realizaram em 2001 a desintrusão do lado norte da terra indígena, sendo conduzido dezenas de invasores para a penitenciária central em Porto Velho. Os representantes de duas associações de invasores foram indiciados em processos judiciais. Pela primeira vez conseguiu-se a reclusão de invasores profissionais de terras indígenas em Rondônia

Organização social

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Como os demais povos Kawahib, os Jupaú e Amondawa estão divididos em grupos de parentesco, cada qual com um chefe, organizados em duas metades: Mutum e Arara.
Antes do contato possuíam grande mobilidade espacial, havendo aldeamentos fixos em determinadas épocas do ano e acampamentos temporários ou tapiris, espalhados por toda área de ocupação.
As aldeias eram construídas em pequenas clareiras abertas na mata. Em suas roças plantavam milho, macaxeira, batata doce, cará e algodão. Produziam a farinha e o cauim de macaxeira. Não utilizavam fumo e, conforme os registros, um não índio que conviveu com eles na década de 40 conseguia tabaco com os seringueiros (Costa, 1981). Antes do contato habitavam malocas retangulares, com tetos de duas águas bastante altos, com saídas dos dois lados. Atualmente, além das malocas (que são minoria), habitam em casas de madeira cobertas com telhas de amianto, prática esta introduzida pela Funai.
Os Jupaú costumam reclamar que essas casas são muito quentes, preferindo ficar nas malocas durante o dia, nas aldeias que ainda as mantêm. Fazem pequenas tocaias de palha, para espreitar a caça, e se abrigam em tapiris de palha, quando estão em longas viagens, no interior da terra indígena.

Casamento e Parentesco

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Os casamentos são tradicionalmente poligâmicos e se dão entre as duas metades, de modo que Mutum só casa com Arara. Os matrimônios são realizados entre primos cruzados: o rapaz casa com a filha do irmão da mãe. Nos últimos anos, devido à escassez de mulheres e à influência do contato com os não índios, as relações têm se tornado monogâmicas, havendo inclusive casos de poliandria. Devido à essa solução os homens têm ido morar com as mulheres ao se casarem.
Quando a criança nasce, já está prometida em casamento. As meninas, ao desenvolverem os seios, já possuem permissão para namorar. Atualmente, por vezes existe resistência em aceitar o marido prometido, acarretando conflito no grupo familiar.
As pessoas de ambos grupos têm como prática mudar de nomes a cada nascimento de um membro da família nuclear. Quando nasce um menino, este recebe o nome do pai quando era bebê; conforme vai avançando a idade, ele vai assumindo os nomes que o pai já teve.

Mortos e espíritos

Os Jupaú enterram seus mortos dentro das malocas, com todos seus pertences. Quando precisam por alguma razão mudar, continuam voltando ao local para visitar e limpar o local onde enterraram seus mortos, ou transportam os ossos para a nova moradia.
As covas são circulares e o morto é enterrado sentado com todos os seus pertences, inclusive com um cocar de penas de gavião em cima do peito, que assegura proteção no mundo dos espíritos.
Os Jupaú acreditam que existem vários espíritos na floresta, aos quais dão diversas denominações e contam relatos sobre suas atuações e como estes influenciam na vida da comunidade. Um desses espíritos é o Anhangá, que tem a aparência de um morcego grande e carrega as pessoas, chupando todo o seu sangue.Contam que o neto do avô do Djurip (um Jupaú) foi carregado pelo Anhangá. Seu avô foi procurar a criança, quando ouviu o barulho da assombração, que estava perto de um pau; ele tentou cortá-lo com um terçado, mas não conseguia, pois ele sumia. Ele viu a criança sendo levada embaixo das asas. Quando tentou pegá-lo, ele virou atrás do pau e sumiu com a criança. Segundo Moram Uru-Eu-Wau-Wau, o evento aconteceu nas cabeceiras do rio Jamari.

Mitos

Abaixo, segue uma pequena amostra da rica mitologia desses dois povos Kawahib.

O aparecimento da noite

O Bacurau falou para a onça abrir a boca, para ele ver o dente da onça. Ela abriu, ele cagou na sua boca, e ela vomitou e quase morreu. Ele voou e foi embora; aí a amiga da onça apareceu e falou: "O que foi?". A onça contou. Sua amiga foi na maloca e queimou todas as espécies de milho, enquanto a onça continuava vomitando. Quando se encostou ao milho preto para queimar, a noite apareceu. A onça ficou sem saber o que fazer; esperou aparecer o dia; tentou acender o fogo mas não pegava. A noite durou uns três dias, a partir daí surgiu um dia e uma noite sempre atrás da outra. A onça, que de tanto vomitar tinha morrido, voltou a viver de novo. (narrado por Djurip Uru-Eu-Wau-Wau).

A utilização do fogo na história do sapo e da cobra

Durante a enchente, o sapo e a cobra não tinham machado para fazerem fogo e se aquecerem. Resolveram cruzar o rio para o outro lado, com uma brasinha que tinham encontrado e que levaram nas costelas, mas não conseguiam voltar para a margem.
O sapo pegou a brasinha e, quando chegou na metade do rio, resolveu procurar um lugar estreito do rio. O sapo teimoso resolveu cruzar o rio naquele lugar com a brasinha, dando saltos largos de modo que conseguiu chegar do outro lado e fez fogo do outro lado, com o qual se esquentou durante o período frio. A cobra, como não sabia pular, ficou do outro lado, passando frio (narrado por Djurip e Mora Uru-Eu-Wau-Wau).

Adornos e festas

Os Jupaú e Amondawa costumam cantar à noite para espantar os inimigos com seus gritos ou lembrar os entes queridos mortos.
Também dançam em suas diversas festas. A festa do milho chama-se Ipuã e outra festa bastante conhecida é o Yreruá. Nesta, os homens tocam taboca, carregando suas flechas, onde os arcos são retesados como se fossem fazer o lançamento das mesmas. As mulheres, em certo momento da festa, dançam agarradas em seus braços. Em certos momentos são dados gritos que tradicionalmente têm uma conotação guerreira.
Durante a dança, o "Chefe da Festa" fica no meio da roda, tocando a maior flauta (Yrerua), e conduzindo o ritmo da dança com marcações feitas com os pés. Os homens usam vários cipós enrolados na cintura, que ficam mais apertados nos quadris e mais largos na altura do estômago, onde prendem seus facões.
Para celebrar a primeira menstruação, é realizada a festa da menina moça.
A menina fica presa na maloca durante um mês e meio no período de colheita da castanha. Ela fica sem tomar banho e um óleo é esfregado em todo o seu corpo. Ao menstruar novamente, ela avisa a mãe, que repassa ao pai, que espalha para toda a aldeia. Ela sai da rede e é banhada pela tia, que tira todo o óleo do corpo.
As castanhas são expostas para os homens as quebrarem no final da tarde. Às cinco horas da manhã, o pai levanta cantando e anunciando que está chegando o dia do casamento. O pai, o tio, os irmãos, o marido e noiva vão até o rio, onde pegam água para cozinhar a castanha. Os outros preparam suas flechas e pinturas. Depois as mulheres, junto à menina, cozinham as castanhas.
A menina recebe vários presentes para se enfeitar (colar de dente de onça, pulseiras e colar de dente de capivara). O marido recebe como presentes cocares, flechas e colares de dente de gato selvagem e lontra. Os presentes não podem ser repassados a outros. A menina tem que tomar banho todo o dia e pegar chuva para tirar o cheiro do óleo de babaçu.

Cultura material

Em momentos rituais, os índios pintam o corpo com urucum, e em guerra pintam o peito com jenipapo num formato de "X", que se assemelha a um pássaro com asas abertas.
Tatuam a face, com um risco da boca à orelha em volta dos lábios. Talvez por isso já tenham sido conhecidos com o nome de "Boca-Preta". Os homens, além de tatuarem o rosto, tatuam no braço esquerdo um peixe, feito com uma folha do mato. Esta tatuagem é feita no ritual da transformação do menino para guerreiro, quando o menino tem aproximadamente 13 anos.
As mulheres tatuam em volta da boca um desenho em formato circular, que costumam dizer que é a representação de uma cobra grande. A tatuagem facial de homens como de mulheres era tradicionalmente feita durante o ritual do casamento. Diante, porém, de tantas transformações que vêm sofrendo os povos Jupaú e Amondawa, os homens deixaram de se tatuar. As mulheres ainda o fazem, pois acreditam estarem assim protegendo maridos e filhos durante as caçadas.
Os cocares e flechas são confeccionados pelos homens com penas de papagaio, arara e gavião real, sendo usados pelos homens (adultos e crianças). Alguns cocares de penas de gavião são feitos para serem usados quando os homens morrem, quando são colocados em cima do corpo do morto, sendo usados durante as festas só para manter as penas belas.
O cocar é tido como uma dádiva aos espíritos em troca de proteção. A pena do gavião é considerada como protetora porque o gavião tem a capacidade de sumir rápido e é difícil de ser observado na mata. Esses cocares não podem ser vendidos nem dados.
As mulheres costumam usar colar de dente de capivara e os homens de porcão. As mulheres também confeccionam colares e anéis de coco de tucumã e dentes de outros animais. Atualmente também utilizam, em alguns casos, tampinhas de remédios, botões e outros adereços nos colares.
Tradicionalmente, faziam panela de barro e cestos para carregar caças, coletar frutos e mel na floresta.

Atividades produtivas

A caça é uma atividade masculina e ocorre próxima às aldeias, em trilhas habituais, em barreiros, numa distância de aproximadamente 3 a 5 Km. Também são formados grupos para caçadas em locais mais distantes.
Em diversos pontos da floresta há locais em que os animais e aves vão cavar e lamber o solo para extrair o sal que existe em maior concentração. Os amazonenses dão a esses locais o nome de barreiros ou chupadores e os índios denominam de Itiwawa. No tempo da seca (Kuaripé) é mais fácil encontrar a caça do que na época das chuvas por motivos diversos: época de frutas e igarapés mais rasos e sem o incômodo das chuvas. A caça é dividida entre toda a comunidade da aldeia.
Inventário das técnicas de caça:

  • Fazem tocaias (tukai) com palha de babaçu para abaterem principalmente o inambu (diversos) próximo das aldeias, em lugares em que estão caindo frutas e na proximidade de barreiros.
  • Imitam o som dos animais para atraí-los (caititu, anta), sendo que, em alguns casos, imitam o filhote (veado e queixada).
  • Rastreamento, técnica esta que consiste em caminhar, seguindo por horas pegadas de queixada ou anta. Quando o animal foi atingido e tem hemorragia, os índios seguem-no acompanhando as gotas de sangue no solo da floresta.
  • O arco e flecha eram os mais importantes instrumentos de caça e guerra dos Jupaú, atualmente utilizam espingardas de calibres diversos. Os velhos, porém, continuam usando o arco e a flecha.  São utilizados diferentes tipos de flechas: Uywa - ponta de taquara para abate de animais maiores;  Miarakanga - ponta de osso de onça para abate de principalmente de aves e eventualmente de peixes; Um´ywa -  ponta de pupunha para abate de peixe.
  • O uso da Tikyguywa na ponta da flecha é outra técnica, como causador de hemorragia nos animais caçados.

A pesca é uma atividade realizada tanto pelo homem quanto pela mulher. Os homens utilizam arco e flecha, arpão e redes malhadeiras durante a pescaria. A época de maior abundância de peixe é no tempo da seca, quando os rios estão em menor volume de água. Mesmo com a introdução de novas técnicas, a pesca tradicional é realizada com o arco e flecha. A flecha apropriada tem ponta de pupunha ou de osso de onça. O uso do "timbó" (método que envolve o envenenamento dos peixes) é bastante freqüente, principalmente em épocas do ano quando a pesca fica difícil.
Há uma seleção dos peixes que podem ser comidos e moqueados, ou cozidos na panela, ou ainda enrolados em folhas de pacovas e colocados direto no fogo (mpoquiga). Fazem farofa (pirakuia) socando no pilão a carne moqueada do peixe. Costumam extrair e armazenar a gordura do peixe cachorro para comer com farinha.
O peixe predileto era a jatuarana (piawuhua), que desapareceu do rio Jamari após a construção da hidrelétrica de Samuel. Já os peixes Cuiucuiu e o Jandia apareceram após a construção desta hidrelétrica.

Agricultura

Toda a família é envolvida nas atividades de subsistência. Durante o ano, as atividades agrícolas vão se intercalando com as extrativistas, a caça, pesca e a vigilância dos limites da Terra Indígena.
Cultivam mandioca e macaxeira. A macaxeira pode ser comida assada ou, uma vez assada, transformada em um mingau não fermentado. Também produziam farinha moendo a mandioca, que depois era colocada sobre uma esteira no sol por vários dias para secar e em seguida ser consumida. Mas atualmente as etapas da fabricação da farinha são: descascamento das raízes, com a utilização de facas, terçados, a ralagem com ralador manual; a maceração e fermentação; mistura feita em cocho de madeira; a prensagem, feita em prensas de madeira; a torrefação é feita em tachos de latão e aquecidos com lenha. É uma atividade realizada por homens e mulheres. Após a torrefação é colocada em sacos para consumo interno e um excedente é vendido com o apoio da Funai. Também produzem farinha de milho (watikuia) no pilão; consomem o milho verde ou seco; também fazem mingau (Kaminha), que é consumido sem a fermentação.
Conhecem diversas variedades de cará (cara), que são plantados em roças novas e em tocos de árvores abatidas. Em parte do roçado ou lado das malocas, plantam uma variedade de batata doce (ytyga). Cultivam ainda uma variedade de taioba (mabaé), e consomem suas folhas cozidas com carne e farinha que chamam de mbotawa. Próximo das moradias também plantam uma variedade de algodão (amanjiju) e urucum. O algodão é utilizado na fiação de cordões. O urucum é usado para pintura corporal e como repelente de insetos.
O mamão é uma planta cultivada ancestralmente, brotando muitas vezes em velhos roçados que são reutilizados.
O espaço utilizado para a roça é um local próximo às aldeias, escolhido na floresta para ser desmatado e queimado no sistema de derrubada e queimada, "coivara". Esta técnica ainda é a que prevalece até hoje entre os índios e também entre os regionais, sendo que atualmente utilizam ferramentas cortantes de metal.
Antes do contato usavam o machado de pedra como instrumento de corte das árvores, o que era muito dificultoso na tarefa de derrubar a floresta para fazer uma roça. Faziam também o desmatamento e queimada na época da seca. Este tipo de manejo da floresta é denominado de "agricultura migratória".
Após o plantio e colheita da roça, esta é abandonada e forma-se uma capoeira, que pode ser reutilizada para a roça alguns anos depois. O trabalho de derrubada da roça é praticado pelos homens. O plantio, a limpeza e a colheita são praticados por toda a comunidade da aldeia.

Alimentação

Cabe aos homens caçar, limpar o animal, construir o moquém (no caso de animais de grande porte) e fazer o fogo. As mulheres preparam os demais alimentos, pescam e cuidam dos filhos, que são tratados carinhosamente por seus pais.
A carne é sua principal fonte de proteína e abundante na Terra Indígena. Há uma seleção rigorosa no consumo dos animais, conforme a tradição Kawahib. No tratamento do animal abatido, não é retirado o couro e colocado no fogo para sapecar o pelo. As carnes dos animais são assadas (mokaen) em moquéns, permanecendo conservada por vários dias quando colocadas no calor do fogo e embrulhadas em palhas e cestos para não serem depositados ovos de varejeiras.
Quando fazem farofa (mbiarakuia), socam no pilão a carne assada (moqueada) de diversos animais. As gorduras da anta são extraídas e armazenadas para o consumo com farinha. Quando abatem uma anta com feto, comem este assado geralmente na folha de pacova.
Além dos animais mencionados, a alimentação é enriquecida pelo consumo de mel e alguns insetos.
A coleta de frutas para serem consumidas in natura é uma atividade bastante apreciada e complementam a alimentação. A Terra Indígena é rica em fruteiras, neste trabalho relacionamos as que são especialmente utilizadas pelos índios.
Os Jupaú e Amondawa possuem diversos tabus alimentares, entre os quais:

  • Os pais de um recém-nascido não podem consumir alimento quente, senão cai o cabelo da criança e ela geme;
  • Veado roxo: o consideram como gente. Se for comido, a pessoa fica com tonteira e vai sendo morta devagar;
  • Macaco: faz a criança chorar e não dormir;
  • Jacu: mesma situação do veado roxo;
  • Jacamim: se a pessoa tiver dois filhos pequenos, choram o tempo todo;
  • Curimba e Urumará: dá coceira no corpo;
  • Paca: dá mancha preta no corpo.

Ambos os grupos mantêm o hábito de criar aves e animais, que são utilizados pelas famílias como fonte de matéria-prima de seus produtos artesanais e como animais de estimação das crianças. São criadas araras e Gaviões Reais para retirada de penas para as flechas e adornos.
Outras criações da aldeia, voltadas sobretudo para brincadeira das crianças, são: Inambu galinha (Namburawa); Inambu Tona (Nambuteua); Jacamim (Gwyryao); Mutum (Mutun´a); Saracura (Arakuria); Periquito (Kykykyia); Curica (Karainha); Papagaio (Airuia Airuua); Filhote de caititu (Taitetua); Filhote de queixada (taiahu).

Nota sobre as fontes

O verbete sobre os Uru-Eu-Wau-Wau e Amondawa foi elaborado a partir do Diagnóstico Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, Realizado pela ONG Kanindé em parceira com a Associação Indígena Uru-eu-wau-wau e Funai, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, e sob a supervisão de Ivaneide Bandeira Cardozo.
O referido diagnóstico funciona como um mapeamento geral da área indígena Uru-Eu-Wau-Wau, contemplando tanto os aspectos sociológicos (antropológicos e jurídicos), quanto ecológicos, considerando que fora feita uma pesquisa exaustiva sobre a dinâmica física da região. As informações repassadas no verbete são de extrema confiabilidade devido a Kanindé possuir um profícuo diálogo com os povos indígenas da área Uru-Eu-Wau-Wau, além de terem realizado um trabalho de campo extenso, auxiliado por uma equipe técnica altamente qualificada. As possíveis imprecisões que podem aparecer em alguns dados, principalmente no que se refere aos aspectos culturais, são em grande medida decorrentes do contato recente desses povos, que atravessam hoje em dia muitas transformações, sendo difícil determinar com precisão em que estado se encontram algumas instituições.
Além do recente trabalho da Kanindé, podemos encontrar a dissertação de mestrado de Mauro Leonel Jr., defendida em 1988 sob orientação da Professora Carmem Junqueira e posteriormente publicada em livro (em 1995). O estudo teve como objetivo traçar um diagnóstico dos problemas enfrentados pelos Uru-Eu-Wau-Wau à luz de fatos históricos e contemporâneos à época, principalmente aqueles ligados às invasões extratoras (madeira, minério e borracha), à perda significativa que esse povo teve de suas terras e à redes de relação social. Do mesmo autor, podemos encontrar um artigo, "A desmarcação das terras Uru-Eu-Wau-Wau", incluído na publicação Povos indígenas no Brasil, volume 1987-1990 do antigo CEDI (que deu origem ao ISA), no qual narra, sob uma perspectiva jurídica de decretos e homologações, os problemas que a terra Uru-Eu-Wau-Wau atravessou, desde sua criação, até as medidas tomadas pelo governo Sarney de revogar a homologação.

Fontes de informação

  • CARDOSO, Maria Lúcia de M. Parecer Antropológico sobre os limites territoriais da área indígena urueu-wau-wau. Porto Velho: Secretaria de Estado de Agricultura de Rondônia e Fundação Nacional do Indio, 1989 (in mimeo).

  • LEÃO, Maria Auxiliadora Cruz de Sá et al. Relatório de identificação da TI Uru-eu-wau-wau. Brasília : Funai, 1985. 59 p.

  • LEONEL JÚNIOR, Mauro de Mello. A "desmarcação" das terras Uru-Eu-Wau-Wau. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 418-22. (Aconteceu Especial, 18)
  • --------. Etnodicéia Urueuauau : o endocanibalismo e os índios no centro de Rondônia; o direito a diferença e a preservação ambiental. São Paulo : PUC-SP, 1988. 284 p. (Dissertação de Mestrado)
  • --------. Etnodicéia Uru-eu-au-au : o endocolonialismo e os índios no centro de Rondônia, o direito a diferença e a preservação ambiental. São Paulo : Edusp ; Iamá ; Fapesp, 1995. 224 p.
  • --------. Onde se esconder? Carta, Brasília : Gab. Sen. Darcy Ribeiro, n. 9, p. 107-12, 1993.

  • NASCIMENTO, Eloiza Elena della Justina et al (orgs.). Diagnóstico etnoambiental Uru-eu-wau-wau. Porto Velho : Kanindé, 2002. 483 p.

  • PAIVA, José Osvaldo de. O silêncio da escola e os Uru-Eu-Wau-Wau do alto Jamari. São Paulo : USP, 2000. 153 p. (Dissertação de Mestrado)

  • PEASE, Helen; BETTS, LaVera. Anotações sobre a língua uru-eu-wau-wau. Brasília : SIL, 1991. 55 p. (Arquivo Lingüístico)

  • SAMPAIO, Wany Bernadete de Araújo. Estudo comparativo sincrônico entre o Parintintin (Tenharim) e o Uru-eu-wau-wau (Amondawa) : contribuições para uma revisão na classificação das línguas tupi-kawahib. Campinas : Unicamp, 1997. 94 p. (Dissertação de Mestrado)

  • SIMONIAN, Lígia Terezinha Lopes. Direitos e controle territorial em áreas indígenas amazônidas : São Marcos (RR), Urueu-Wau-Wau (RO) e Mãe Maria (PA). In: KASBURG, Carola; GRAMKOW, Márcia Maria (Orgs.). Demarcando terras indígenas : experiências e desafios de um projeto de parceria. Brasília : Funai/PPTAL/GTZ, 1999. p.65-82.

  • --------. "This bloodshed must stop" : land claims on the Guarita and Uru-Eu-Wau-Wau reservations, Brazil. Nova York : City University of New York, 1993. 530 p. (Tese de Doutorado)

  • --------. Os Uru-Eu-Wau-Wau e os Amundáwa no início dos anos noventa. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 423-25. (Aconteceu Especial, 18)

  • Na trilha dos Uru-Eu-Wau-Wau. Dir.: Adrian Cowell. Vídeo Cor, 50 min., 1990. Prod.: Morrow Carter; UCG.

Brasis Indígenas - Fimes e Documentários

Fonte: http://www.mnemocine.com.br/osbrasisindigenas/v1.htm


Título: Cinejornal Brasileiro número 33 - volume 4
Título original: Cinejornal Brasileiro número 33 - volume 4
Bitola original: Filme 35mm/p&b
Direção e Produção: Departamento de Imprensa e Propaganda, Brasil,1945
Duração:9’

Realizado pelo (DIP) Departamento de Imprensa e Propaganda, produtora de cinema estatal durante o período do Estado Novo. Mostra uma visita do presidente Getúlio Vargas até o rio das mortes, onde os irmãos Villas-Boas realizavam a expedição Roncador - Xingu, sob os auspícios da Fundação Brasil Central. Tomadas aéreas da cidade de Aragarças, no rio Araguaia, buscam mostrar seu crescimento, exemplo claro da "vontade empreendedora que caracteriza os dias de hoje". Tal ímpeto é ainda ressaltado por tratar-se de uma cidade tão próxima dos "ferozes" índios Xavantes.

Título: Expedições famosas
Título Original: Expedições famosas
Bitola Original: 16mm/ p&b
Direção: James Marshall
Produção: ABC, EUA,1953
Duração: 24’

Um dos episódios de uma série de documentários produzidos para TV que registrou as principais expedições da atualidade. Neste programa o aventureiro e explorador James Marshall acompanha o grupo liderado por Orlando Villas-Boas que com ajuda de Krumari (índio Txucarramãe que já vive entre os brancos), objetiva obter o primeiro contato amistoso com os Txucarramãe. Orlando Villas Boas é representado como herói e verdadeiro diplomata na relação e na proteção dos índios contra a desumanidade praticada por outros exploradores. Apesar da visão humanista o vídeo é uma perspectiva estritamente da cultura do branco. O filme reflete bem o olhar exótico e romântico que o mundo tinha sobre os índios, a Amazônia, o Brasil e sobre o trabalho dos irmãos Villas-Boas.

Título: Cinejornal Informativo n. 6
Título original: Cinejornal Informativo s/n VII
Bitola original: Filme 35mm/p&b
Direção e Produção: Agência Nacional, Brasil,1965
Duração: 2’

Ministro Cordeiro de Farias realiza entrega de material à turma encarregada de definir o traçado da ligação rodoviária Xavantina-Cachimbo. Cenas com os Xavante e visita do ministro ao Parque Indígena do Xingu.

Título: Uirá, um índio em busca de deus
Título Original: Uirá, um índio em busca de deus
Bitola Original: 35mm/cor
Direção: Gustavo Dahl
Produção: Alter Filmes Ltda, Brasil, 1974
Duração: 90’

Baseado em um livro de Darcy Ribeiro, o filme foca a trajetória de Uirá, um índio Urubu-Kaapor, na busca pela "terra sem males". A aventura começa após a morte de seu primogênito, quando ele e sua família decidem ir a busca de Maíra o Herói criador nas culturas Tupi. Nesse processo, Uirá e sua família saem de sua aldeia no interior do Maranhão e chegam a capital, São Luiz

Título original: O Terceiro Milênio
Bitola original: 16mm/cor
Direção: Jorge Bodanzky e Wolf Gauer
Produção: Stopfilm ZDF, Brasil, 1981
Duração: 95’

De Manaus, pelo Solimões, Javari e Iça até Coari, Tefé e Tabatinga, através das terras do povo Maiuruna e das aldeias da Nação Ticuna, uma viagem pelos confins do tempo presente.
Agosto de 1980: Evandro Carreira, senador da República, pelo Estado do Amazonas, percorre suas bases eleitorais, conduzindo o espectador por uma viagem absolutamente inédita. O filme segue passo a passo a viagem de um político inflamado que se diz defensor de uma Amazônia ainda desconhecida.
Numa região indecisa entre o Peru, a Colômbia e o Brasil, os cineastas registram o contato do Senador sem tentar interferir na realidade que se apresenta. O contraste entre a beleza da selva e a miséria dos índios, a desconfiança dos líderes da região quanto a bondade de Carreira e os relatos de corrupção da FUNAI estão presentes neste filme sob a ótica do cinema verdade.

Título original: Povo da Lua, povo do sangue
Bitola original: Filme 35mm/p&b
Direção: Marcelo Tassara
Produção: Comissão pela criação do Parque Yanomami, São Paulo, Brasil,1984.
Duração:27’

Povo da lua, povo do sangue é um documentário realizado a partir do acervo da fotógrafa Cláudia Andujar reunido entre 1972 e 1982. Produzido pela Comissão pela Criação de um do Parque Yanomami, o filme tinha a finalidade de ampliar o impacto político do projeto de criação de território contínuo e reconhecido oficialmente, atuando na conscientização do grande público e dos centros de decisão ao relatar os efeitos devastadores do contato do índio Yanomami com a sociedade nacional. Marcelo Tassara apresenta neste filme um tratamento inovador da linguagem cinematográfica, conjugando elementos documentais pré -existentes - fotos e sons - com a criação estética, através da técnica table-top.

Título: Na trilha dos Uru-Eu-Wau-Wau
Título original: Na trilha dos Uru-Eu-Wau-Wau
Bitola Original: Betacam/cor
Direção: Adrian Cowell/ Vicente Rios
Produção: Central Independent Television/Universidade Católica de Goiás, EUA-Brasil,1979
Duração: 55’

O filme narra a dramática busca, que empreeendeu Chico Prestes, nas selvas de Rondônia, na tentativa de recuperar seu filho Fabinho, capturado pelos Uru-Eu-Wau-Wau, em novembro de 1979. A equipe de filmagem documenta a expedição da FUNAI, no primeiro contato com os Uru-Eu-Wau-Wau, em contraste com o avanço massacrante da civilização para dentro do território indígena.
Expostos às frentes de Colonização, sem proteção eficiente da FUNAI, a nação Uru-Eu-Wau-Wau fecha a década da destruição contando seus mortos. Este filme integra a série premiada internacionalmente "A Década da Destruição".

Título: Os Yanomami do rio do mel
Título original: Yanomami de la rivière du Miel
Bitola original: 16mm/cor
Direção: Volkmar Ziegler
Produção: Volkmar Ziegler e Pierrettle Birraux, Suiça, 1984
Co-produção: Fonds National Suisse de la Recherche Scientifique
Duração: 55’

Rodado em 1982, o filme acompanhou uma pesquisa sobre ocupação territorial entre as aldeias Yanomami.
Raros são os povos ameríndios que, como os Yanomami do norte do Brasil, puderam preservar o modo de vida tradicional. Uma região de difícil acesso e uma reputação de serem guerreiros temidos os manteve afastados. A intimidade que os Yanomami tem com a floresta é sugerida pelo som ambiente enquanto os mitos ditos nos permitem ver a imbricação do imaginário com o real. Na ocasião de realização deste filme, vários projetos de colonização e de exploração de minério encontravam-se nas mediações do território Yanomami. A propagação das doenças que as acompanhavam era fatal.
Prix Nanook no Bilan du Film Ethnographique, Paris, 1986.

Título: A canoa do peixe-cobra – uma viagem pelo rio Amazonas
Título original: Das Schlangenfischkanu, eine Flussreise in Amazonien
Bitola original: 16mm/cor
Direção: Herbert Brödl
Produção: Baumhaus Film Brödl
Co-produção: HR - Frankfurt, ORF (Viena), Alemanha, 1984.
Duração: 87’

Dois índios tucano e um velho padre italiano navegam pelo rio Negro em um barco de pesca, rumo ao interior do Amazonas, em busca do peixe-disco. Para os índios tucano, toda vida vem da água. Uma canoa vira cobra e a cobra vira peixe. Nessa canoa do peixe-cobra nasceu também a humanidade e a água vermelha do Rio Negro é o líquido amniótico de seu parto. A separação entre realidade e mito, entre natureza e cultura, entre os homens e seu ambiente orgânico se dilui. O contato com uma natureza que está em tudo, a saudade que ela desperta, a solidão, tudo isso desperta tensões e fantasias durante a convivência no barco e as obsessões dos viajantes à tona.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Arte Surrealista

Série Vestibular: Literatura - 020 - Vanguarda Européia

Uma Releitura das Vanguardas Européias - Literatura Brasileira

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres em destaque

Mulheres em destaque

Por Raquel Souza

A semana dedicada às mulheres em Pacatuba teve inicio no dia 2 março nas localidades de Pavuna, Monguba, Jereissati e Sede. Na abertura, houve desfile para escolher as finalistas para o concurso Pacatuba Mulher, que irá escolher a mais bela mulher de 40 a 60 anos de idade.

No Jereissati, a disputada foi acirrada. Ao todo, 12 candidatas participaram de um desfile de eliminatória, no qual foram avaliados quesitos como: beleza, simpatia, charme e elegância. A final será dia 10 de março na Praça da Juventude.

A secretária da Mulher, Kátia Bandeira ressaltou durante o evento a valorização da autoestima. “Planejamos esse evento para valorizar essa geração. É muito importante para gente saber que elas se sentem tão bem”, ressaltou. Na ocasião, o controlador executivo Renato Célio Rodrigues parabenizou as mulheres presentes e falou da iniciativa do evento. “Todas essas mulheres estão de parabéns e merecem ser aplaudidas. Garantir a igualdade de oportunidades e de direitos entre homens e mulheres, visando assegurar à população feminina e o pleno exercício da cidadania, é um dos nossos objetivos como executores de projetos e iniciativas como essas”, frisou.

O prefeito de Pacatuba, Zezinho Cavalcante, citou em seu discurso os avanços da mulher. “Apesar de ser considerada ‘sexo frágil’, a mulher tem muita força, além do poder intuitivo e da capacidade de lidar com inúmeras jornadas ao longo da vida, seja no trabalho ou em casa, com a família. Eventos como esse resgatam que além de todas essas responsabilidades, a mulher ainda consegue habilidade suficiente paraparticipar”, destacou.

As eleitas de cada distrito foram agraciadas com um buquê de rosas e uma faixa com denominação de Rainha. Foram escolhidas três mulheres de cada distrito que vão participar de um desfile na Praça da Juventude no sábado, 10, às 18h, de onde sairá a mais bela mulher de meia idade de Pacatuba. Até lá elas participam de programas de TV, um dia de beleza, book fotográfico e muitos outros eventos.



Conheça as finalistas:

Sede

1º Regina Maria Pereira
2º Maria Diana Alves de Souza
3º Maria da Conceição Lima da Silva

Pavuna

1º Maria Eliane da Silva
2º Vera Lúcia Lopes
3 º Francisca Costa de Souza

Monguba

1º Maria Rosimar LO. Monteiro
2º Aldiana Alves Vieira
3º Antonia Cilene Soares

Jereissati

1º Maria Helena Lima Martins
2º Francisca da Silva Neres
3º Maria do Socorro Cavalcante

Propaganda - Síndrome de Down - Carlinhos - Radiohead

quarta-feira, 7 de março de 2012

8 de Março - Dia Internacional da Mulher


A Escola Mirtes Holanda parabeniza antecipadamente, todas as mulheres, pela sua presença sempre ativa e transformadora na escola e na sociedade, através de sua sensibilidade, amor e compreensão.

Transtornos Alimentares - Geral



Ninguém se assusta quando ouve uma adolescente magricela recusar uma mordida no sanduíche da amiga dizendo estar de regime. O uso indiscriminado de inibidores de apetite, geralmente anfetaminas, tampouco gera reprimendas mais intensas (Jornal do Brasil, 14 de outubro de 2001). Esses comportamentos, porém, podem ser um sinal de alerta para um problema mundial que atinge 1% da população feminina entre 18 e 40 anos e pode levar à morte, mas que só agora começa a receber a atenção devida no Brasil.

Os Transtornos Alimentares constituem uma verdadeira "epidemia" que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional?

De um modo geral, o pensamento falho e doentio das pessoas portadoras dessas patologias se caracteriza por uma obsessão pela perfeição do corpo. Na realidade, trata-se de uma "epidemia de culto ao corpo" que se multiplica em uma população patologicamente preocupada com a estética corporal e afetada por alterações psíquicas relacionadas ao esquema corporal. É assim que os Transtornos Alimentares vêem aumentando sua incidência perigosamente e já começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias.

A busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar e algumas delas diferem notavelmente entre si. Existem os Transtornos Alimentares mais tradicionais, que são a Anorexia e Bulimia mas, não obstante, existem outros quadros que se estimulam e desenvolvem na denominada "cultura do esbelto".

Os portadores da doença também desenvolvem uma obsessão pela forma física e distorcem a auto-imagem a tal ponto que se sentem gordos mesmo estando com 38 kg. O resultado é a paulatina deterioração física e mental, inicialmente com sintomas leves, tais como queda dos cabelos, até complicações cardiovasculares, renais e endócrinas tão graves que podem levar a morte.

Os professores e os pais devem ter noção dos fatores de risco da Anorexia Nervosa e da Bulimia. Vejamos alguns fatores de risco que devem nortear uma hipótese de diagnóstico :


- Meninas adolescentes e adultas jovens de classe média e média-alta;
- Meninas que aspiraram trabalhar em atividades que enfatizam o estado de magreza do corpo (atores, modelos, bailarinas e desportistas);
- Ex-gordas ou com excesso de peso que se tornam obsessivas por práticas freqüente de dietas;
- História familiar de transtorno obsessivo-compulsivo;
- Baixa Auto-estima;
- Expectativa de grandes desempenhos (feitos);

- Perfeccionismo, insegurança no relacionamento social;

- Dificuldade em identificar e expressar sentimentos.



Também podem ser traços característicos da personalidade inclinada à Anorexia Nervosa uma preocupação e cautela em excesso, medo de mudanças, hipersensibilidade e gosto pela ordem. Como se vê, são traços compatíveis com o Espectro Obsessivo-Compulsivo.

Para inclinação à Bulimia os traços característicos da personalidade seriam a impulsividade, desorganização, preferência pelo novo, fácil desmotivação, extroversão, preocupação com modismos.

Essa patologia, é significativamente agravada pela valorização desmedida que algumas culturas modernas emprestam à estética corporal, sugerindo à pessoas mais vulneráveis que seria praticamente impossível conciliar a felicidade com uma discreta "barriguinha". m países desenvolvidos, 93% das mulheres e 82 % dos homens entrevistados estão preocupados com sua aparência e trabalham para melhorá-la. De um modo geral, desejar ter uma imagem corporal melhor não implica sofrer de algum transtorno emocional, obviamente. Entretanto, desejar ardentemente ter uma imagem corporal perfeita aumenta muito as possibilidades de que apareça algum transtorno emocional.


Há características comuns à Anorexia e à Bulimia, e existem também traços diferentes entre elas.


É na adolescência, quando a personalidade ainda não está plenamente configurada, que este tipo de obsessão se converte num pesadelo, agravado pelos modelos de perfeição e beleza que os meios de comunicação enfáticamente transmitem. Os jovens se sentem na obrigação de ter corpos perfeitos, extremamente "saudáveis", ainda que para tal se sacrifique a saúde e o bem estar.

Que são os Transtornos Alimentares?
Os Transtornos Alimentares são definidos como desvios do comportamento alimentar que podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros problemas físicos e incapacidades.

Os principais tipos de Transtornos Alimentares são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Essas duas patologias são intimamente relacionadas por representarem alguns sintomas em comum: uma idéia prevalente envolvendo a preocupação excessiva com o peso, uma representação alterada da forma corporal e um medo patológico de engordar. Em ambos os quadros os pacientes estabelecem um julgamento de si mesmos indevidamente baseado na forma física, a qual freqüentemente percebem de forma distorcida.

O impacto que os Transtornos Alimentares exercem sobre as mulheres é mais prevalente, ainda que a incidência masculina esteja aumentando assustadoramente. A Vigorexia, por exemplo, tem sido predominante nos homens, mas já se estão detectando casos de mulheres obcecadas pelo músculo. Já os Transtornos Dismórficos acometem igualmente ambos sexos.

Em uma combinação quase fisiológica entre a aspiração de ser admirada, tornar-se famosa, ficar rica e ter sucesso (nessa ordem), estimuladas ainda por profissionais da moda de gosto anatômico extremamente duvidoso, mocinhas deixam-se abater totalmente pela inanição.... e recebem aplausos por isso.

Nessa circunstância os pais não percebem que algo está errado, a paciente dissimula e minimiza essa penúria orgânica e seu delírio dá-lhe a certeza de que é mais bonita que as outras.



HISTÓRICO
Segundo Cordas (2004), Habermas (1986, 89) descreveu um caso pioneiro altamente sugestivo de Anorexia Nervosa em uma serva que viveu no ano de 895. A jovem Friderada, após apresentar um apetite voraz e descontrolado, para tentar diminuí-lo, buscou refúgio em um convento e nele, com o tempo, foi restringindo sua dieta ate passar a efetuar longos jejuns. Embora inicialmente ainda conseguisse manter suas obrigações conventuais, rapidamente seu quadro foi se deteriorando até a sua morte, por desnutrição.

No ano de 1694, Richard Morton (Pearce, 2004) é o primeiro a relatar a Anorexia Nervosa, descrevendo o tratamento de uma jovem mulher com recusa em alimentar-se e ausência de ciclos menstruais, que acabou morrendo de inanição com suas faculdades mentais básicas preservadas.

Em 1873, o francês Charles Laségue, descreve a anorexia nervosa como uma doença autônoma denominada por ele de anorexie histérique e, descrevia o transtorno da seguinte maneira: “forma peculiar de doença que afeta principalmente mulheres jovens e caracteriza-se por emagrecimento extremo...” cuja “falta de apetite é ...decorrente de um estado mental mórbido e não a qualquer disfunção gástrica...” (Cordás e Claudino, 2002).

Mas foi William Gull quem utilizou pela primeira vez a expressão "anorexia nervosa" em uma conferencia dada em Oxford (Gull, 1874): "forma peculiar de doença que afeta principalmente mulheres jovens e caracteriza-se por emagrecimento extremo” cuja “falta de apetite é decorrente de um estado mental mórbido e não a qualquer disfunção gástrica". Gull descartou a possibilidade que uma enfermidade orgânica justificasse a anorexia.

Na mesma época e de maneira quase simultânea, se produziu a descrição da doença por Laségue (1873), qualificando-a de inanição histérica e considerando-a, da mesma forma que Gull, uma doença psicogêna (Toro,1996). No final do século XIX, em 1893, Freud descreveu um caso de anorexia tratado com hipnose, um ano mais tarde descreveu a doença como uma psiconeurose de defesa, ou neurose da alimentação com melancolia . Em 1874, William Gull descreve três meninas com quadro anoréxico restritivo denominando-o de apepsia histérica. Charcot detectou, por volta de 1889, que a idée fixe d obesité ou fobia de peso seria o elemento psicopatológico central que motivava as a anorexia em mulheres. A antiga idéia de Charcot é corroborada por Crisp, em 1980, que considerou a anorexia nervosa como um estado de fobia de peso.

Em 1903, Pierre Janet relata um caso de uma moça de 22 anos, que apresentava repulsa e vergonha de seu corpo com constante desejo de emagrecer, quadro que denominou de anorexie mental. O autor relacionou a busca intensa da magreza à necessidade de protelar a maturidade sexual e sugeriu dois subtipos psicopatológicos, obsessivo e histérico.

Foi em 1973 que Hilde Bruch propôs a psicopatologia central da anorexia nervosa estribada em três áreas de perturbação do funcionamento psíquico:
1. - transtornos da imagem corporal;
2.- transtornos na percepção ou interpretação de estímulos corporais, como por exemplo reconhecimento da fome e;
3. - uma sensação paralisante de ineficiência que invade todo o pensamento e atividades da paciente.


Todos estes Transtornos Alimentares compartilham alguns sintomas em comum, tais como, desejar uma imagem corporal perfeita, em igual proporção entre a Anorexia e a Bulimia; e perceber uma distorção da realidade diante do espelho, predominantemente na Anorexia. Um agravante é que, nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspecto físico parece ser o único sinônimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.



Aspectos neurológicos e sócio-culturais dos Transtornos Alimentares
Vários estudos epidemiológicos demonstram um aumento na incidência de alguns dos Transtornos Alimentares (Hsu, 1996) concomitante à evolução do padrão de beleza feminino em direção a um corpo cada vez mais magro (Garner & Garfinkel, 1980), notadamente da Anorexia e da Bulimia nervosas. A Anorexia e a Bulimia parecem ser mais prevalentes em países ocidentais e são claramente mais freqüentes entre mulheres jovens, especialmente aquelas pertencentes aos estratos sociais mais elevados destas sociedades, o que fortalece sua conexão com fatores sócio-culturais.

É por isso que alguns pesquisadores entendem os Transtornos Alimentares como síndromes ligadas à cultura. As síndromes ligadas à cultura são constelações de sinais e sintomas que se restringem a determinadas culturas em função das características peculiares das mesmas.

De acordo com esta concepção, a pressão cultural para emagrecer é considerada um elemento fundamental da etiologia desses transtornos, os quais, juntamente com fatores biológicos, psicológicos e familiares acabam gerando uma preocupação excessiva com o corpo, um medo anormal de engordar e uma ansiedade marcantemente acompanhada de alterações do esquema corporal. Essas são, pois, as características da Bulimia e da Anorexia.

Em nível pessoal e neurológico, as condutas de alimentação estão normalmente reguladas por mecanismos automáticos no Sistema Nervoso Central (SNC). A sensação de fome tem origem dupla; tanto em estímulos metabólicos, quanto em receptores periféricos situados na boca e no tubo digestivo. Induz-se a sensação de apetite, que desencadeia conduta de alimentação. A sensação de saciedade faz cessar estímulos da fome e se detém o processo. As pessoas normais apresentam algumas reações adaptadas aos estímulos de fome e de sede, com respostas corretas para a saciedade.

Há tempos se sabe ser o hipotálamo o local onde se situam os centros da fome e da saciedade mas, será no córtex cerebral o local onde se desenvolvem mecanismos mais complexos relacionados à alimentação.

Embora o processo da alimentação (fome, sede, saciedade) possa parecer fisiologicamente automático e elementar, como dissemos, eles não ocorrem apenas nos elementos neurobiológicos que regulam a conduta alimentar. Eles também estão vinculados à experiências vivenciais prévias. Portanto, existem outros mecanismos mais complexos e relacionados com nossas experiências psicológicas (sentimentos de segurança, bem estar e afeto que se experimentam a através do peito materno na lactação, antecedentes pessoais de carência extrema, etc.) regulando o processo da alimentação.

Também se relacionam ao ato de comer, nossas experiências sociais, tomando-se por base o fato de que o ato de comer tenha um aspecto eminentemente social e cultural. Normalmente as características dos alimentos definem os diferentes grupos culturais. Assim, culturalmente se diz "dieta mediterrânea, comida americana, italiana, indiana..., pratos típicos, menus tradicionais...., etc". Dessa forma, o ato de comer sempre foi e continua sendo um fenômeno de comunicação social. Através da comida o grupo social se sente reúne e se identifica, de tal forma que na maioria dos atos sociais a comida ocupa um lugar de destaque.

Devido a esses múltiplos aspectos atrelados ao comensalismo, existem muitas possibilidades de que o processo natural de alimentar-se varie no tempo e na cultura. Em algumas ocasiões a causa dos Transtornos Alimentares pode ser física, decorrente de doenças que dificultam o processo da alimentação ou alteram o aproveitamento normal dos alimentos, outras vezes, entretanto, o processo da alimentação pode alterar-se por fatores sociais, tais como a religião, cultura, status, moda etc...

Alterações Cerebrais e Transtornos Alimentares
Os pacientes com Anorexia Pura têm muitos aspectos clínicos comuns com os pacientes portadores de Bulimia, principalmente da Bulimia do tipo restritivo (de ingestão alimentar restrita). Alguns desses aspectos clínicos comuns às duas patologias seriam, por exemplo, a distorção da imagem corporal, alterações na percepção das sensações internas, fobia do ganho de peso, preocupação em manter um peso de corpo subnormal.

Estudos com tomografia por emissão de pósitrom (SPECT) mostraram haver um hipometabolismo (metabolismo abaixo do normal) em determinada região cerebral, mais precisamente na área frontal e parietal nos pacientes com Anorexia Nervosa (Tetsuro Naruo).

Esses estudos funcionais cerebrais têm mostrado que estímulos visuais de alimentos de alto teor calórico aumentam o fluxo sangüíneo cerebral regional no do giro do cíngulo, nas áreas para-límbicas de pacientes com Anorexia Nervosa. Os pacientes selecionados por Tetsuro Neruo foram divididos em três grupos: aqueles com Anorexia Nervosa, outros com com Bulimia e voluntários saudáveis. Todas as imagens foram submetidas à comparação com o espaço anatômico padrão do cérebro e alisadas a seguir. Após a análise estatística de cada imagem do cérebro, os relacionamentos entre imagens foram avaliados.

Esta análise das imagens do SPECT revelou que o fluxo do sangue da área frontal, principalmente na região do giro do cíngulo (bilateralmente), esteve diminuído significativamente no grupo de pacientes com Anorexia Nervosa, quando comparado com o grupo portador de Bulimia e com o grupo dos saudáveis.

Trabalho de Naruo* e cols. com 7 pacientes com Anorexia Restritiva e 7 com Anorexia Bulímica em 2001



Fig.1 - A estatística paramétrica e mapeamento de áreas de diminuição do fluxo sanguíneo na Anorexia Nervosa Restritiva. A diminuiu do fluxo sanguíneo é bilateral e anterior, na região do Giro Cingulado (Zona 24 de Brodmann"s) e em partes das regiões frontais (partes das zonas 8, 9,10 e 32), quando comparados com os controles saudáveis. (P <0,001, medida = 550)




*- Naruo T, Nakabeppu Y, Deguchi D, Nagai N, Tsutsui J, Nakajo M, Nozoe SI - Decreases in blood perfusion of the anterior cingulate gyri in Anorexia Nervosa Restricters assessed by SPECT image analysis, BMC Psychiatry 2001, 1:2

Tais achados sugerem, possivelmente, a existência de alguma alteração funcional cerebral relevante na psicopatologia da Anorexia Nervosa. Entretanto, os trabalhos de Tetsuro Naruo mostraram também, que os pacientes com Bulimia podem apresentar uma ativação específica em determinadas regiões corticais anteriores, notadamente no hemisfério cerebral direito, quando estimulados com alimentos calóricos.

Vejamos alguns exemplos de outros Transtornos Alimentares.

1. - Anorexia Nervosa
A Anorexia Nervosa é um transtorno emocional que consiste numa perda de peso derivada e num intenso temor da obesidade. Esses sentimentos têm como conseqüência uma serie de condutas anômalas. A Anorexia Nervosa acomete preferentemente a mulheres jovens entre 14 e 18 anos.

Os sintomas mais freqüentes da Anorexia Nervosa são:

1.Medo intenso a ganhar peso, mantendo-o abaixo do valor mínimo normal.
2. pouca ingestão de alimentos ou dietas severas;
imagem corporal distorcida .
3. Sensação de estar gorda quando se está magra;
grande perda de peso (freqüentemente em um período breve de tempo)
4. Sentimento de culpa ou depreciação por ter comido
5. Hiperatividade e exercício físico excessivo
6. Perda da menstruação
7. Excessiva sensibilidade ao frio
8. Mudanças no caráter (irritabilidade, tristeza, insônia, etc.)



2. - Bulimia Nervosa
A Bulimia Nervosa é um transtorno mental que se caracteriza por episódios repetidos de ingestão excessiva de alimentos num curto espaço de tempo (as crises bulímicas), seguido por uma preocupação exagerada sobre o controle do peso corporal, preocupação esta que leva a pessoa a adotar condutas inadequadas e perigosas para sua saúde. A Bulimia Nervosa também acomete preferentemente a mulheres jovens ainda que algo maiores que em Anorexia.

Os sintomas mais freqüentes da Bulimia Nervosa são:

- Comer compulsivamente em forma ataques de fome e as escondidas,
- Preocupação constante em torno da comida e do peso,
- Condutas inapropiadas para compensar a ingestão excessiva com o fim de não ganhar peso, tais como o uso excessivo de fármacos, laxantes, diuréticos e vômitos auto-provocados.
- Manutenção do peso pode ser normal ou mesmo elevado,
- Erosão do esmalte dentário, podendo levar à perda dos dentes,
- Mudanças no estado emocional, tais como depressão, tristeza, sentimentos de culpa e ódio para si mesma.



3. - Síndrome do Gourmet
As pessoas que sofrem dessa síndrome vivem preocupadas (mais que o normal) com a preparação, compra, apresentação e ingestão de pratos especiais, diferentes e e/ou exóticos. Podem continuar com esse tipo de preocupação e atividade, muito embora tenham perdido o interesse nas suas relações sociais, familiares e ocupacionais.

Acredita-se que tal alteração possa ser conseqüência de lesões ou alterações funcionais no hemisfério cerebral direito, tais como tumores, traumatismos, hemiplegia, etc.

4. - Transtorno Alimentar Noturno
É grande a incidência - de 1 a 3% da população – das pessoas que se levantam a comer pela noite, ainda que continuam dormidos. Em grande número das vezes essas pessoas não são conscientes do que fazem e não lembram de nada ao despertar. Quando lhes contam o que fizeram, negam contundentemente. A despeito desse "assaltos" noturnos à cozinha, a maioria desses pacientes faz regime durante o dia. Também ocorre em alcoolistas, drogadictos e pessoas com transtornos do sono.

Os pacientes com Síndrome do Comer Noturno geralmente comem mais de 55% das calorias totais de um dia entre 8h e 6h da manhã. Eles podem acordar várias vezes durante a noite só para comer e, concomitantemente, apresentam uma piora do humor durante a noite.

Normalmente a Síndrome do Comer Noturno não é uma patologia única, mas sim uma combinação de um transtorno alimentar, um transtorno do sono e um transtorno do humor. Embora não exista um tratamento específico, alguns medicamentos podem ser utilizados para ajudar no controle do comer noturno e nos sintomas depressivos que podem estar presentes.

5. - Pica
As pessoas com este transtorno se sentem impulsionadas a ingerir sustâncias não comestíveis: sabonete, argila, gesso, casquinhas de pintura, alumínio, cera, tijolo, etc. Trata-se de uma condição rara onde existe apetite por coisas ou substâncias não alimentares, como por exemplo, terra, moedas, carvão, sabonete, giz, tecido, etc. ou uma vontade anormal de ingerir produtos considerados ingredientes de alimentos, como diferentes tipos de farinha, batatas cruas, milho, mandioca, etc.

Para o diagnóstico de Pica esse fenômeno precisa persistir pelo menos por um mês. O nome pica vem do latim e significa pega, um pássaro do hemisfério norte renomado por comer quase de tudo que encontrar por sua frente. Pica pode ser observada em todas as idades mas em particular em mulheres grávidas e em crianças, especialmente naquelas que sofrem dificuldades em seu desenvolvimento infantil normal.

6. - Síndrome de Prader-Willy
A Síndrome de Prader-Willi é um defeito que pode afetar as crianças independentemente do sexo, raça ou condição social, de natureza genética e que inclui baixa estatura, retardo mental ou transtornos de aprendizagem, desenvolvimento sexual incompleto, problemas de comportamento característicos, baixo tono muscular e uma necessidade involuntária de comer constantemente, a qual, unida a uma necessidade de calorias reduzida, leva invariavelmente à obesidade.

Essa Síndrome deve seu nome aos doutores A. Prader, H. Willi e A. Labhart que, em 1956, descreveram pela primeira vez suas características. Acredita-se que haja um bebê com a síndrome para cada 10.000-15.000 nascimentos.

É um problema congênito associado à um tipo de retrardo mental. Essas pessoas não têm controle ao aceso à comida, comem sem parar até que acabam morrendo. Parece estar relacionado com um mau funcionamento do hipotálamo. O Prozac ajuda controlar o problema que, de momento, não tem cura.

7. - Transtorno do Comer Compulsivo
Atualmente acha-se em estudo uma terceira categoria comum de Transtorno Alimentar; o Transtorno do Comer Compulsivo ("binge-eating disorder"), na qual os pacientes apresentam episódios de voracidade fágica (episódios bulímicos) mas sem se utilizarem de métodos purgativos depois, como acontece na Bulimia Nervosa.

No Transtorno do Comer Compulsivo também não há preocupação mórbida e irracional com o peso e a forma do corpo, assim como acontece na Bulimia e na Anorexia. Estes pacientes são na maioria das vezes obesos e parecem se distinguir de obesos que não apresentam esses episódios de comer compulsivo por apresentarem mais co-morbidade psiquiátrica e pelo fato da obesidade ser de maior gravidade.

O transtorno do comer compulsivo acomete três mulheres para cada dois homens e tem uma prevalência de 2% na população geral e de 30% entre as pessoas obesas que procuram tratamento para emagrecer.

As pessoas com este transtorno apresentam freqüentes crises, durante as quais sentem que não podem parar de comer. Comem depressa e às escondidas, ou não deixam de comer o dia todo. Apesar desses pacientes se sentirem culpados e envergonhados por sua falta de controle, eles não apresentam atitudes compensatórias e compulsivas (vômito, laxantes...) típicas dos pacientes com Bulimia. Normalmente eles têm um histórico completo de fracassos em diversas dietas e regimes para emagrecimento. Normalmente são pessoas depressivas e obesas.

Esta compulsão alimentar incontrolável leva os pacientes a ingerir quantidades exageradas de alimentos em um curto espaço de tempo. Estes ataques de comer (binge eating) devem ocorrer com uma freqüência mínima de 2 vezes por semana para que seja diagnosticada a síndrome. Para o diagnóstico do Transtorno do Comer Compulsivo sugere-se os seguintes critérios:

Os sintomas mais freqüentes do Transtorno do Comer Compulsivo são:

1 - Episódios repetidos de "binge eating" (ataques de comer)
2 - Durante os episódios, 3 dos indicadores abaixo devem estar presentes:
-Comer muito mais rápido do que o normal
-Comer até se sentir desconfortavelmente empanturrado
-Comer grandes quantidades de comida, mesmo sem fome.
-Comer sozinho, com vergonha da quantidade.
-Sentir-se culpado e/ou deprimido depois do episódio



Por que os Transtornos Alimentares aumentaram e acometeram preferentemente as mulheres?
Dos séculos XVII a XIX a Anorexia Nervosa recebia nomes de Anorexia Histérica, Apepsia Histérica e Compunção Nervosa, com inúmeras descrições científicas de autores famosos, como Morton (1689), Gull (1874) e Lassegue. Nestas épocas esse transtorno era considerado próprio de mulheres.


Em 1914 o doutor Simmonds descreveu este transtorno com o nome de Caquexia Hipofisária, ressaltando que era uma doença que acometia mulheres no pós-parto, as quais começavam a perder peso e acabavam morrendo. Em 1939, Otto Sheehan realizou o diagnóstico diferencial entre Caquexia Hipofisária (de origem eminentemente orgânica) e a Anorexia Nervosa.

Para entender porque vem aumentando a incidência dos Transtornos Alimentares e porque eles têm especial predileção pelo público feminino, temos que entender a "História do Comer Mal" e a "História do Valor da Magreza".

A partir de 1925, os padrões de beleza feminina deram uma guinada muito importante. Desapareceram totalmente os tais espartilhos (usado por quase 4 séculos) do vestuário feminino, e a mulher começa a mostrar seu corpo de outra maneira. Neste ano aparecem pela primeira vez os figurinos de moda, nos quais se prega uma estilização progressiva. Essa mudança coincide com a incorporação da mulher ao esporte e começa a moda de mulheres delgadas.

Esta nova exibição do corpo feminino é definitivamente contínua e progressiva, fazendo com que a mulher se preocupe mais com sua estética corporal visível, a qual passa a ser objeto de observação e crítica sociais. Entretanto o modelo de beleza dos anos cinqüenta, como fora Marilin Monroe ou Ava Gadner, continua sendo representado por uma mulher mais cheia de curvas, mais palpável mas não gorda. E, a contar pelo entusiasmo que a imagem de Monroe provoca ainda hoje, há razões para crer-se que boa parcela da população masculina tem essa mesma preferência. Mas parece que as mulheres estão se importando cada vez menos com as preferências masculinas...

A partir dos anos 50 aumenta a preocupação com os Transtornos Alimentares. Começa o estudo das diferentes tendências de pensamento sobre esses transtornos, não só das idéias representadas pelos fatores biológicos e psicológicos, senão também dos elementos sociais e educativos que influenciavam a nova cultura da magreza.

O papel da mulher também passa a ser melhor analisado a partir dos anos 60, não só em relação à moda, mas também em relação à mudança social que se produz a partir de sua incorporação maciça no panorama ocupacional. Suspeita-se que dessa ocasião o surgimento de algumas dietas errôneas. Para isso contribuíram alguns fatores da cultura da época, tais como, a ausência de uma pessoa que se responsabilize pelos horários familiares de comida (papel tradicionalmente atribuído à mãe), o desaparecimento do hábito de comer em família e supressão da merenda e da ceia.

Todas essas alterações da conduta alimentar sofreram ainda a influência dos diferentes estilos de vida que surgiam em conseqüência das jornadas prolongadas de trabalho (tanto para homens como para mulheres), das dificuldades para traslados dos bairros distantes para os centros de trabalho e do frenético ritmo urbano que propiciava a necessidade de se comer fora de casa.

Portanto, as facilidades para se alimentar mal, juntamente com a cultura do emagrecimento, podem ter favorecido o aumento dos Transtornos Alimentares. E eles se tornaram mais comuns entre as mulheres, talvez porque a cultura da magreza fosse mais forte entre elas. Uma das características da Anorexia e da Bulimia nervosas é o medo patológico e obsessivo de engordar (mais comum entre mulheres), juntamente com um peculiar transtorno do esquema corporal.

Todas as estatísticas apontam que 90% das pessoas portadoras de Transtornos Alimentares são mulheres e, entre elas, aquelas com idade entre 14 e 18 anos, embora, hoje em dia, cada vez mais essa idade venha decrescendo perigosamente para meninas menores de 12 anos.

Os padrões de beleza atuais e a rejeição social à obesidade feminina fazem com que as adolescentes sintam um impulso incontrolável de estar tão delgadas como as "top models" que a publicidade e os meios de comunicação apresentam diariamente no glamour da glória e do sucesso.

As mensagens educativas dirigidas às jovens estimulam, sobretudo, que estas sejam muito responsáveis para conseguir êxito na vida social, profissional e familiar. Portanto, seguindo essas regras, não é casual que o perfil da jovem anoréxica (ou anorética) seja preferentemente de uma menina responsável e estudiosa, que deseja realizar corretamente seu relacionamento social e que tenha um perfeccionismo exagerado.

Um dos requisitos para se ter êxito e aceitação social é ter um físico apropriado, portanto, pelos valores culturais (das top models) é estar magra. A perda de peso, condição para se estar magra, pode realizar-se com vontade e esforço, portanto, é aqui que a jovem pode começar a ser responsável, meritosa, participativa e, incrivelmente magra.

Nos países industrializados, aos 15 anos de idade, uma a cada quatro meninas fazem regime para emagrecer, sem que, em quase nenhum caso, se constatem problemas de peso acima de uma faixa de normalidade. Respondendo a pergunta se "você se vê gorda, mesmo que os outros te vejam magra?", 58 % das meninas de 15 anos contestaram afirmativamente a opinião dos outros que as consideravam normais, magras ou não gordas. Seria esse um indício de Distorção do Esquema Corporal?

É muito curioso observar que as lésbicas têm um índice de Transtornos Alimentares tão baixo quanto dos meninos, enquanto os meninos homossexuais têm este índice próximo ao das meninas.

Não obstante, existe um fundo de perfeccionismo corporal latente, tanto em meninos como em meninas, mas os homens têm (no momento) alguns modelos mais masculinizados, não tão delgados. É neste ponto que surge, atualmente, uma nova doença chamada Vigorexia, que consiste numa obsessão para atividade física exagerada nos meninos, especialmente em academias. Nesses casos, mais ou menos como acontece na Anorexia das mulheres, pode haver também alguma alteração no esquema corporal, de tal forma que, apesar de sua evidente massa muscular, eles se olham no espelho e se vêm enfraquecidos.

O impacto entre a população adolescente de programas de TV, sobretudo das novelas para jovens e dos vídeos musicais, influi fortemente nestas tendências supermusculares. Por outro lado, ao contrário do que podem pensar muitos, a Anorexia e a Bulimia nervosas não são doenças de meninas tontas que desejam ser magras. Esses Transtornos Alimentares acometem pessoas com perturbações emocionais e que precisam muita ajuda.

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